Eles estão bastante presentes nas rádios, nos aplicativos de música, nas caixas de som, “paredões” e alto-falantes. São ritmos musicais que se desdobram em vários subtipos e despertam amor e ódio. Tratam-se dos estilos populares de música, como o funk e o brega. Feitos para levantar e empolgar multidões, falando de conquistas, realidades, dificuldades e aventuras pessoais e amorosas, eles são bastante aceitos e admirados por parte do público, mas enfrentam ainda o preconceito e a repulsa de outros públicos, que o consideram como “lixo cultural”, um tipo de música sem qualidade, sentido ou mensagem.
Definido por uma de suas músicas como “som de preto e favelado, que quando toca, ninguém fica parado”, o funk surgiu nos Estados Unidos por volta da década de 1960 como uma mistura de outros ritmos originários da música negra americana, como o rhythm and blues (R&B), o soul music, o rap e o próprio rock. No início, o funk era considerado indecente devido à origem da palavra, que tem um significado sexual em inglês. Logo, seu ritmo ficou mais sexy e solto com as palavras repetidas e o ritmo da dança. O gênero musical chegou ao Brasil nos anos 1970 e se espalhou por meio da dança, com bailes organizados em comunidades periféricas do Rio de Janeiro.
A popularidade do ritmo já causou tamanho incômodo e até gerou uma sugestão legislativa em 2017, na qual foi sugerida ao Congresso uma lei que criminaliza o funk no Brasil. A justificativa usada é de que o ritmo seria “risco à saúde pública”, “prejudicial” para crianças e adolescentes e um meio de “recrutar criminosos, pedófilos e estupradores”. A petição chegou a ter mais de 20 mil assinaturas, mas acabou arquivada pela Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado Federal, por entender que ela ofende a uma cláusula pétrea da Constituição.
O preconceito é explicado pelo fato de as músicas tratarem de assuntos que são tabus na sociedade e de retratarem grupos sociais marginalizados, sobretudo pessoas negras e periféricas. “O funk demarca muito bem isso, principalmente por pessoas pretas que trazem em suas letras manifestos, seja da sua própria realidade social ou do que se sente, se vive ou de aspectos sexuais, como se experimenta sexualidade de uma forma explícita e sem tabu, algo que para todo o resto da sociedade é ainda um assunto proibido. Então se torna um preconceito tanto pela perspectiva de classe e raça, quanto também por temas, principalmente o sexo”, argumenta a psicóloga Dayane Figueiredo, egressa do curso de Psicologia da Universidade Tiradentes (Unit Sergipe).
As tentativas de criminalizar o ritmo da música de grupos marginalizados não são novidade, porque nas décadas de 1930 e 1940 as pessoas eram tendenciosas contra o samba e, nos anos 1990, eram contra o hip-hop. Ao falar sobre o funk, as classes mais altas usaram táticas como vincular o funk ao crime e ao tráfico de drogas como forma de barbarizar o ritmo na sociedade como um todo.
A psicóloga continua falando sobre os ritmos e dessa vez, aborda o brega, que em suas letras e canções fala muito de emoção. “Os relacionamentos e suas dores são os principais temas do ritmo, os cantores vêm numa ideia de representar classes trabalhadoras, empregadas domésticas, pedreiros, etc, por conta disso, acaba por ficar à margem, não pelo que toca, mas também pelo que representa”, afirma.
Popularização do ritmo
Porém, o funk e outros ritmos das camadas populares ocupam uma nova proporção no país à medida que se popularizaram nas festas e comemorações de todas as classes, trazendo formas e expressões importantes para entender como são a vida e a rotina nas comunidades. Com a virada do milênio, o funk saiu da periferia e ingressou na classe média alta, tocando em locais mais públicos como academias e até mesmo na mídia de massa, como trilha sonora de novelas.
É esperado que estes ritmos tenham mais reconhecimento da sua natureza social, pois além de proporcionar oportunidades para os jovens que precisam, também podem permitir à comunidade retratar suas realidades vividas nestes lugares, através da música, além de oportunizar a saída de inúmeros jovens do mundo da criminalidade, através da música.
Asscom | Grupo Tiradentes