Especialistas em saúde pública estão cada vez mais preocupados com a diminuição da cobertura vacinal da população brasileira, principalmente em doenças que eram – e ainda são – eliminadas e controladas no país. Dados do Datasus, setor que reúne dados e estatísticas relacionadas ao Sistema Único de Saúde (SUS), mostram que o Brasil está há praticamente sete anos sem alcançar o patamar mínimo de 95% da população imunizada com algum tipo de vacina, independente do tipo de doença.
A última vez em que isso aconteceu foi em 2015, quando o índice de cobertura foi de 95,07%, dentro do que é preconizado pelo Ministério da Saúde. Nos anos que se seguiram, manteve-se entre 50,44% em 2016 e 77,13% em 2018. Em 2021, sob efeito de algumas fases da pandemia, 59,94% dos brasileiros receberam alguma vacina. E neste ano de 2022, até meados deste mês de setembro, esse índice estava em 44,11%.
Entre as 19 doenças combatidas por vacinas constantes no Programa Nacional de Imunização (PNI), as que tiveram maior queda de cobertura vacinal no Brasil foram a rubéola, a febre amarela, o rotavírus e as hepatites virais. Para o médico Matheus Todt Aragão, infectologista e professor do curso de Medicina da Universidade Tiradentes (Unit Sergipe), “a redução da cobertura vacinal que temos observados, sobretudo na última década, expõe desnecessariamente a população a doenças graves e mesmo fatais que estavam controladas”.
Uma delas é o sarampo, cujo vírus foi reintroduzido no Brasil em 2018, apenas dois anos depois de o país ter recebido o certificado de território livre da doença. Mas o caso mais grave é o da poliomielite, conhecida também como paralisia infantil, que teve o seu último caso registrado no Brasil em 1989, graças à existência e estruturação do PNI, criado em 1973 e operacionalizado pelo SUS.
“O PNI traçou estratégias de vacinação de rotina e de campanha que ajudaram na conquista de certificação de eliminação dos poliovírus selvagens 2 e 3, que causam poliomielite. Até o momento, o PNI mantém a eliminação da doença, mas se as coberturas continuarem baixas, possivelmente ela pode voltar”, afirma Paula, acrescentando que “ainda há possibilidade de adoecimento pela poliomielite causada pelo poliovirus 1”, disse a professora Maria Paula Reis Futuro, professora e preceptora de estágios do curso de Enfermagem da Universidade Tiradentes (Unit Sergipe).
Na última quarta-feira, 21, a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), alertou que o Brasil e mais 11 países da América Latina correm risco de surto da doença, por terem a cobertura vacinal abaixo de 80%. A doença provoca paralisia em partes do sistema nervoso e não tem cura, mas pode ser prevenida apenas com a vacinação.
Causas e consequências
Um dos fatores que podem explicar tamanha queda de adesão da população às vacinas é a desinformação propagada por movimentos anti-vacina, que surgiram na Inglaterra ao final da década de 1990 e se espalharam a partir de artigos científicos fraudados. Com o avanço das redes sociais e da internet, as chamadas fake news (notícias falsas) espalharam esses movimentos ainda mais pelo mundo, o que acabou chegando ao Brasil e interferindo diretamente nas estratégias de vacinação. “Infelizmente, na pandemia da Covid-19, a população foi induzida à incerteza pela falta de informação e conscientização. Ainda ouvimos discursos de que as vacinas possuem chips, que mudam nosso DNA, e outros mais”, lamentou a professora.
Com o PNI, criado em 1973 pelo Ministério da Saúde, o Brasil foi adquirindo experiência e tornou-se uma referência mundial em imunização, com as campanhas nacionais de vacinação, o estabelecimento de um calendário de rotinas vacinais e a execução do programa pelo SUS (Sistema Único de Saúde), que garante a distribuição e a aplicação dos imunizantes em todos os 5.570 municípios brasileiros.
“O Brasil historicamente é um país exemplar em vacinação. Sempre tivemos uma cobertura vacinal muito boa, conseguindo erradicar doenças relativamente comuns em boa parte do mundo. As vacinas foram exaustivamente estudadas quanto sua eficácia e segurança, além de serem diretamente responsáveis pela erradicação de epidemias devastadoras (como da varíola, da febre amarela e, mais recentemente, da COVID-19). É fato que muitos de nós estão vivos hoje devido a vacinação massiva que houve no passado”, assegura Matheus.
Os especialistas defendem uma intensificação maior destas campanhas de vacinação, com foco no combate às fake news e no esclarecimento da população quanto à importância da vacinação. “A população pode ser melhor conscientizada com campanhas constantes de orientação sobre a importância da imunização e com o combate intenso à desinformação. A população tem que saber, sem sombra de dúvidas, que a vacinação é segura e que salva vidas”, reforçou Todt.
Para Maria Paula, essas campanhas precisam fortalecer suas equipes de Saúde da Família, contemplar as populações com maior vulnerabilidade social e ter uma maior participação de outros entes da sociedade, como instituições de ensino, conselhos de classe, hospitais e clínicas. “A população é melhor conscientizada quando a informação é propagada de forma clara e embasada cientificamente, por meio de profissionais capacitados de órgãos e instituições de saúde competentes”, defende a enfermeira.
As instituições do Grupo Tiradentes em Sergipe, Alagoas e Pernambuco participam diretamente desse engajamento em favor das vacinas, seja pela atuação direta de alunos, professores e preceptores de Enfermagem, Medicina e outros cursos de saúde, seja através de parcerias com as prefeituras de cidades como Aracaju, Maceió e Jaboatão (PE), cedendo seus espaços para a instalação de postos de vacinação contra a Covid-19 e outras doenças.
Asscom | Grupo Tiradentes