Nutricionismo é um conceito criado a partir da junção das palavras reducionismo e nutrição. De autoria do pesquisador australiano Gyorgy Scrinis, ele define uma distorção da maneira de estudar o alimento. O termo intitula um livro já lançado no Brasil e que tem sido indicado como referência para quem estuda ou trabalha com Nutrição.
Nessa publicação, ele faz uma crítica à maneira como o alimento estava sendo estudado. Para o pesquisador, a tentativa de explicar todos os problemas alimentares por meio dos nutrientes só fez agravar o problema, e retirou das pessoas o poder de decidir de maneira simples sobre a própria comida e costumes alimentares.
“Desde as tentativas dos cientistas do século XIX de calcular a quantidade precisa de macronutrientes e calorias necessárias para o crescimento normal e para a prevenção de deficiências, essa arrogância nutricional foi estendida à distribuição de conselhos dietéticos definitivos para reduzir o risco de enfermidades crônicas, como doenças cardíacas, câncer e diabetes”, escreve.
Nutrição reducionista
O livro apresenta ideias que modificam a maneira de lidar com nutrição, vista pelo autor como reducionista e de achados simplistas, mas que acabam sendo incorporados pela indústria para vender seus produtos. Muitos profissionais também o utilizam para o aconselhamento nutricional, e o consumidor, por sua vez, passa a ser influenciado em suas escolhas alimentares e reproduzi-lo no senso comum em torno do tema.
Resumindo, o nutricionismo é o foco restrito ao nutriente, sem considerar sua interação com outros nutrientes também presentes e a qualidade do alimento em si. Essa ideia esquece também de observar a combinação entre alimentos e o padrão alimentar. No lugar disso, ele propõe o paradigma da qualidade do alimento a ser consumido, pois não é o nutriente o mais importante para a saúde humana.
A dieta ou cardápio que alimenta uma pessoa ou uma comunidade deve ser respeitado. As melhores escolhas incluem o conhecimento que foi reunido ao longo da história. Este pesquisador leva em consideração ainda a qualidade dos alimentos com base no seu processamento e utiliza uma classificação semelhante à do Guia Alimentar para a População Brasileira que também indica evitar os ultraprocessados.
Guia alimentar
Este documento do Ministério da Saúde publicado em 2006 com as primeiras diretrizes alimentares oficiais para a população apresentou novas recomendações em 2014 para atender as transformações sociais vivenciadas pela sociedade brasileira. Mudanças essas que impactaram sobre suas condições de saúde e nutrição. A segunda edição do guia passou por um processo de consulta pública.
Esta consulta permitiu o seu amplo debate por diversos setores da sociedade e orientou a construção da versão final encontrada no link acima. O Guia preconiza as dimensões cultural, social e ambiental e sua orientação-chave é fazer de alimentos in natura e minimamente processados a base da dieta, e evitar ultraprocessados. O Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da USP (Nupens) foi o responsável pela elaboração do texto inicial, depois submetido a consulta pública.
O Nupens ganhou destaque mundial ao propor a classificação dos alimentos pela extensão e pelo propósito de processamento, e não mais pelo perfil nutricional. Isso significa valorizar alimentos tal como os conhecíamos desde sempre, e deixar de lado a abordagem por nutrientes separados, como também defende o pesquisador Scrinis, criador do termo nutricionismo.
Diferentes grupos de interesse atuaram em torno da definição dos rumos da orientação alimentar oficial brasileira, mas de acordo com especialistas, é papel do profissional nutricionista esclarecer aos seus pacientes muitas das questões envolvidas com a alimentação, que se ampliam muito além da definição dos nutrientes. O nutricionista pode auxiliar as pessoas em sua autonomia na busca da melhor alimentação para sua saúde.
Asscom | Grupo Tiradentes