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Veículos tradicionais enfrentam alcance de redes sociais

Plataformas de comunicação têm sido usadas para disseminação de fake news; veículos tradicionais de imprensa reforçam checagem e validação de informações

às 15h48
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Nas últimas campanhas eleitorais realizadas no Brasil, uma figura surgiu em meio às tentativas de decifrar o pensamento do eleitor: a das “tias do zap”. São pessoas que repassam mensagens através do Whatsapp e das redes sociais, sendo os conteúdos os mais diversos. Alguns são banais, como vídeos, piadas e animações. Outros são as já conhecidas fake news, que têm ganhado um alcance tão grande a ponto de criar uma percepção de rivalização com os veículos tradicionais de comunicação, disputando credibilidade com o rádio, o jornal, a televisão e a própria internet. 

Mas será que as pessoas estão mesmo tendendo a acreditar mais nas redes sociais do que nos veículos tradicionais de comunicação? O professor Caio Mário Guimarães Alcântara, doutorando em Educação e docente dos cursos de Jornalismo e Publicidade da Universidade Tiradentes (Unit Sergipe), não acredita nessa tese, mas sim em uma “polarização exacerbada no mundo”, que é fruto da formação social que vem moldando as pessoas na atualidade. “Temos um grupo de pessoas que são essencialmente hedonistas, egocêntricas e que pautam sua cultura na satisfação de suas crenças. Essas pessoas sempre leem, ouvem e disseminam aquilo que lhes convém e como as redes sociais têm concentrado boa parte dos debates existentes, cria-se a impressão de que as pessoas acreditam nas informações disseminadas por lá”, disse ele. 

Além disso, o professor ressalta que as redes sociais não alcançam toda a população mundial, pois, de acordo com estatísticas, pouco mais de 51% da população mundial tem acesso regular às redes sociais. “Não dá para limitar os debates comunitários a esse espaço. A convivência, as narrativas e coberturas da mídia tradicional e diversas outras formas de comunicação, como os meios alternativos, por exemplo, também são plataformas relevantes na aquisição de informação e construção de conhecimento”, pondera Caio.

De acordo com Alcântara, o alcance significativo das redes sociais, sobretudo em determinados grupos, se deve a estratégias das empresas que criam e administram as plataformas, de modo a explorar e aproveitar financeiramente o potencial que cada uma oferece. “Elas surgem, inicialmente, como um modo de interação, mas logo o mercado percebe o potencial financeiro dessas redes e passa a explorar isso. Cada rede social conta com departamentos de estudos e análises para entender os movimentos de mercado e direcionar algoritmos e estratégias. Desde as mais simples, até as mais complexas. Assim, o consumidor (ou usuário) sempre tem à sua disposição somente o conteúdo que lhe agrada e convive somente com pessoas que concordam com esses posicionamentos. Essa é a lógica que faz com que as redes, cada vez mais, sejam buscadas e utilizadas”, explica. 

Sobre as fake news, o professor esclarece que “essencialmente não há (ou pelo menos não deveria haver) relação desse fenômeno com as plataformas comunicacionais”, mas esses espaços, considerados de “livre expressão”, acabam buscados por pessoas, empresas e grupos para que elas marquem suas posições e tentem convencer outras pessoas a concordarem ou se engajarem nelas. E isso acaba favorecido pelos sistemas de algoritmos adotados pelas redes sociais. “Temos então um problema sério: de um lado pessoas que, muitas vezes sem escrúpulos ou com intenções escusas, utilizam esses espaços virtuais para disseminar mentiras; do outro, temos as redes sociais que, na condição de empresas, faturam alto com interação, volume de transmissão de dados ou mesmo venda destes. A combinação gerou um terreno fértil para o fortalecimento da cultura das informações falsas (jamais notícias, pois elas nunca devem ser falsas)”, frisa Caio. 

Somente a verdade

Com o crescimento do alcance das redes sociais, os veículos tradicionais de comunicação têm se preparado e lançado iniciativas para reforçar sua credibilidade junto ao público, principalmente checando e desmentindo informações falsas que circulam nas redes sociais. Entre os exemplos disso, estão as agências de checagem, como Lupa e Aos Fatos, o serviço Fato ou Fake (do Grupo Globo) e o Projeto Comprova (da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, com 28 veículos e grupos de comunicação do país). 

Caio Guimarães avalia que os jornais, sites, rádios e canais de TV têm assumido cada vez mais um papel de validadores das informações que circulam, confirmando as corretas e desmentindo as erradas. É um papel que ficou ainda mais evidente com a pandemia do coronavírus, que motivou várias campanhas de informação. “No começo, surgiram várias publicações falando sobre números desencontrados, medicações que teriam eficácia, vacinas, etc. Coube ao jornalismo tradicional dar voz à ciência, aos governos e a todos os que podiam dar correção às narrativas. A própria noção de que hoje sabemos os dados de mortes na pandemia por um consórcio de imprensa, com muito mais agilidade e exatidão do que por órgãos de governo, comprova o que digo”, destacou ele. 

Para o professor, os veículos tradicionais devem trazer à tona o verdadeiro sentido do “fazer jornalismo”, que é “apurar, entrevistar, investigar para dar à sociedade o máximo de informações, dando aos sujeitos condições de formar seus entendimentos”. Uma função social que nunca foi fácil, segundo ele, mas sempre foi cumprida. E isso passa também pela educação midiática, conscientizando o cidadão comum sobre o papel da mídia, ainda nas escolas. 

“Não dá para falar em mudanças sociais sem pensar em mudanças de cultura. Estas, por sua vez, demandam um esforço de redirecionamento que perpassa pelos processos educacionais. A educação deve trazer para si os debates sobre mídia e comunicação na mesma intensidade de que a mídia e a sociedade devem internalizar a educação como algo vital. Esse é um esforço de gerações, que vão refletindo sobre si, entendendo os fenômenos e mudando modos de ser”, conclui Guimarães. 

Asscom | Grupo Tiradentes

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