A prática da chamada “mindful eating” (alimentação atenta, em tradução livre) tem origem na “mindfulness”, hábito comum entre praticantes de meditação. Comumente traduzida como “atenção plena”, a “mindfulness” é uma técnica utilizada para aumentar a atenção e manter o foco naquilo que acontece à sua volta, com ênfase nos cinco sentidos. “O mindful eating é um convite para a gente refletir sobre como andamos no piloto automático e para comermos com mais atenção”, avalia Tâmara Gomes, professora de Nutrição do Centro Universitário Tiradentes (Unit-PE) — localizado na Imbiribeira, ao lado do Geraldão.
O “mindful eating” trata-se da atenção plena na hora de se alimentar e ajuda a entender a qualidade dos alimentos. O foco é melhorar a relação do indivíduo com a comida e com a aceitação do próprio corpo. De acordo com uma pesquisa da USP, pessoas que adotam a prática apresentam melhorias no comportamento alimentar, nos aspectos psicoemocionais da alimentação, além de redução dos níveis de estresse, de ansiedade e de episódios de compulsão alimentar. “É um treinamento da habilidade de comer com atenção, sem julgamentos, sem críticas, considerando as questões físicas, mas também as emocionais”, explica Tâmara.
Transtornos alimentares
Transtornos alimentares, como a própria compulsão, mas também anorexia e bulimia, por exemplo, têm raízes psicológicas, de acordo com Tâmara. “Eles nascem, na maioria das vezes, a partir de um desejo absurdo de ter um corpo que não nos pertence, e as mídias sociais só alimentam isso, a partir do momento em que se endeusa a magreza”, afirma. Ela destaca ainda que as mulheres, principalmente jovens, são as mais afetadas por esses ideais de beleza, inclusive em algumas profissões, como profissionais de educação física, nutricionistas, jornalistas e mesmo artistas.
A anorexia se caracteriza pelo medo de ganhar peso, levando o paciente a comer muito pouco. Já a bulimia acontece quando o indivíduo come de maneira exagerada, mas depois sente culpa e tenta compensar o excesso com medidas perigosas, como provocar vômitos. Tâmara alerta ainda que a anorexia é um transtorno extremamente perigoso e que pode levar a óbito. “Na anorexia, o paciente simplesmente não quer comer porque tem uma meta de perda de peso que, na maioria das vezes, é uma meta absurda, e o paciente pode evoluir para uma desnutrição gravíssima”, esclarece.
Diagnóstico e tratamento
Esses transtornos podem causar distorções na autoimagem, anemia, desidratação, pressão baixa, tontura, no caso da anorexia; já a bulimia pode trazer complicações gastrointestinais, além de desidratação, fadiga, desequilíbrio de eletrólitos. Todas essas condições de saúde mudam, cada uma à sua maneira, a relação do paciente com a alimentação. Por isso, o diagnóstico deve ser feito por um médico psiquiatra, que vai participar do tratamento em conjunto com um psicólogo e um nutricionista. Outros profissionais podem auxiliar no tratamento, a depender do caso, como fisioterapeutas, profissionais de educação física e médicos de outras especialidades.
No âmbito nutricional, segundo Tâmara, existem várias maneiras de tratar os transtornos alimentares, a depender do caso, mas os tratamentos geralmente envolvem práticas não dietéticas, ou seja, que não se baseiam na prescrição de uma dieta. O mindful eating é uma dessas práticas. “O paciente entra num processo de meditação e se conecta com os estímulos que do seu corpo e tem uma percepção de questões positivas e afetivas que são evocadas pelo alimento. O alimento é sinônimo de vida, mas também tem o prazer ao comer, o respeito ao seu corpo”, explica. Tâmara acrescenta que, quando o paciente sofre de anorexia, o uso de um tratamento com dieta pode acontecer.