Fazer um curso de mestrado ou doutorado demanda tempo e, em muitos casos, alto gasto pessoal. Por essa razão, é natural o questionamento se esse investimento será compensado futuramente no mercado de trabalho. Uma simples comparação da renda dos trabalhadores com algum diploma de pós-graduação com aqueles que concluíram apenas a graduação sugere à primeira vista que os ganhos são estupendos.
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE, trabalhadores que concluíram a pós-graduação em 2015 registravam uma renda média de R$ 7.400 mensais, mais que o dobro do que o verificado para a média de R$ 3.600 de quem tinha apenas graduação.
O problema nesta comparação é que ela desconsidera inúmeras características que podem explicar essa diferença salarial e nada têm a ver com o diploma de pós. A depender da região, profissão, gênero, entre outras variáveis, um trabalhador que se matricula num programa de mestrado ou doutorado pode já estar num patamar salarial superior à média de quem não cogita ou não têm condições de fazer esse investimento na carreira.
Portanto, para chegarmos mais próximo do quanto de fato um diploma representa em termos salariais, é preciso buscar a comparação entre trabalhadores de perfil semelhante.
Foi exatamente isto que fizeram Rafael Goldszmidt e Diego de Faveri, professores da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV-EBAPE). Ao cruzarem as bases de dados da Capes (com informações sobre o perfil dos alunos egressos de cursos de pós) com as da Rais (Relação Anual de Informações Sociais, mantida pelo Ministério do Trabalho) e acompanharem a trajetória desses trabalhadores ao longo do tempo, os pesquisadores identificaram que a conclusão de um mestrado ou doutorado têm de fato impacto positivo na remuneração formal. Mas, como era de se esperar, ele é bastante inferior aos percentuais encontrados numa comparação simples.
Para quem conclui um mestrado acadêmico (stricto sensu), o retorno financeiro é da ordem de 23% a mais no salário em comparação com um trabalhador de características semelhantes, mas que não concluiu essa etapa. No caso do metrado profissional, o percentual encontrado foi de 19%. A conclusão de um doutorado também gera retornos salariais semelhantes, de aproximadamente 20%, na comparação com quem concluiu apenas um mestrado.
Goldszmidt e Faveri investigaram também outras questões relevantes. Uma delas é saber se o mercado está pagando mais para aquele profissional pelo efeito do diploma (o empregador identifica que o trabalhador tem um título de mestrado e doutorado e principalmente por isso tende a pagar mais a ele) ou se foi o conhecimento acumulado no curso que leva a uma melhoria salarial.
Essa conta é feita principalmente analisando se o retorno financeiro acontece imediatamente após a obtenção do diploma, ou se é gradual ao longo do curso. A conclusão dos autores é de que o efeito diploma de fato é significativo, sendo maior no mestrado e doutorado acadêmicos, o que pode ser explicado em parte pelo fato de em muitas carreiras, especialmente no setor público, a obtenção do diploma estar legalmente associada a uma valorização salarial.
Outra conclusão interessante do estudo dos pesquisadores é que, para mulheres, a obtenção de um título de mestrado ou doutorado, apesar de ter efeitos positivos em sua renda individual, é insuficiente para reduzir a desigualdade de gênero, pois, mesmo tendo igual titulação, elas acabam recebendo menos no mercado de trabalho do que os homens com características semelhantes.
Mesmo sendo muito menor do que o verificado numa comparação simples, o retorno de um título de pós-graduação em termos salariais continua sendo significativo. O trabalho de Goldszmidt e Faveri nos ajuda a entender melhor como acontece esse retorno e quem mais se beneficia dele.
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