Lírio branco, acássia-branca, quiabo-de-quina, árvore-rabanete-de-cavalo, cedro ou moringueiro. Mas podem chamá-la de moringa. É uma bela planta de folhas brancas que não passa tão despercebida pelos jardins onde é cultivada. O que muitos não sabem é que aquela planta tem sementes que são matéria-prima para óleos lubrificantes considerados de grande qualidade e muito estudados pela indústria química e outros bioprodutos. Essas pesquisas são desenvolvidas pelos Programas de Pós-graduação em Biotecnologia Industrial (PBI) e Engenharia de Processos (PEP), ambos da Universidade Tiradentes (Unit Sergipe), em laboratórios do Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP).
Conhecida oficialmente como Moringa oleifera Lam, a planta está presente em diferentes regiões tropicais do mundo e foi introduzida no Brasil em meados de 1950. Desde então, ela vem sendo cultivada nos estados da Região Nordeste, principalmente, no Maranhão, no Piauí, no Ceará e em Sergipe. “Descobertas sobre novas propriedades e aplicação do óleo contido nas sementes de Moringa oleifera Lam impulsionaram diversos trabalhos e, consequentemente, a difusão mais ativa das suas características. Contudo existem poucos estudos utilizando a rota enzimática”, explica a professora Cleide Mara Faria Soares, do PBI/Unit, sobre o grande potencial deste produto.
Atualmente, três teses de doutorado orientadas pelos professores dos programas de Pós-graduação tratam desde a extração do óleo da semente de moringa até a obtenção de bioproprodutos. A primeira tese foi do doutorando Milson dos Santos Barbosa do PEP, sob a orientação dos professores-doutores Álvaro Silva Lima e Cleide Mara Faria Soares, da Unit Sergipe, e Matheus Mendonça Pereira, da Universidade de Aveiro (Portugal). O tema é sobre o bioprocesso Integrado para síntese de biolubrificante a partir do óleo de Moringa oleifera Lam. Esta tese tem como foco aproveitar as possibilidades técnicas e econômicas das biorrefinarias com a valorização dos resíduos sólidos, produzindo a partir daí um óleo com capacidade de desempenho acima de 90%, que pode ser usado favoravelmente como biolubrificante em máquinas e equipamentos hidráulicos. Tais estudos resultaram em uma patente registrada e três artigos publicados em revistas internacionais.
“A partir destes resultados promissores duas novas metas desafiadoras foram propostas para tornar-se projetos de pesquisa de alunos do PBI, com vistas ao aproveitamento integral da biomassa e do óleo desta biomassa, da moringa”, disse a professora Cleide, ao falar sobre as outras duas teses desenvolvidas.
A da doutoranda Flávia Michelle Silva Santos avalia as propriedades físico-químicas e reológicas para sistemas envolvendo o óleo de semente de Moringa oleífera, com o objetivo de obter produtos na área cosmética e de alimentos. De acordo com Cleide, que é orientadora do projeto junto com o professor Cláudio Dariva, a pesquisa descobriu que estes óleos extraídos das sementes se modificam a depender da sazonalidade em cada região, como épocas de chuva ou seca. “Na etapa atual estamos avaliando as propriedades reológicas com intuito de ter óleos e óleos modificados em condições otimizadas tendo assim a redução do impacto ambiental das atividades produtivas e os desafios do consumo sustentável para a nossa região”, explicou.
A última tese, orientada pela professora Cleide e pelo professor Elton Franceschi, é de Tamara Azevedo e estuda a reação de esterificação do tocoferol (vitamina E) presente no óleo de semente de Moringa oleifera Lam, mediante fatores externos como luz e temperaturas a aplicação do óleo em produtos cosméticos pode ser alterada de acordo com sua estabilidade. Assim, se faz necessário o estudo combinado de técnicas de extração do óleo em meio convencional, com solvente, ou em meio pressurizado associado a biotransformação.
Impacto das pesquisas
“Os resultados relatados no artigo precursor do PEP e nas metas desafiadoras das teses do PBI demonstram que a Biorrefinaria é uma abordagem para a produção sustentável de biolubrificantes, produtos na área cosmética e de alimentos para o avanço economia circular, tendo assim possivelmente impactos ambientais e econômicos positivos”, disse a professora Cleide, com a expectativa de que os estudos resultem em novas alternativas de bioprodutos, atendendo à produção de energias renováveis e à promoção do uso sustentável dos ecossistemas terrestres, um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para a Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU).
“Os bioprodutos das metas destas teses obtidos a partir da proposta da Biorrefinaria procura atender os princípios de inspeção e certificação de selos verdes no mercado, na qual o setor industrial tem buscado a obtenção de produtos com pequena e/ou nenhuma adição de aditivos tóxicos. A razão para isto, é que a certificação concedida a uma empresa é a prova da qualidade e sustentabilidade de seus processos ou produtos, um norte para nossas pesquisas na área de Bioprocessos, o que eleva a confiança dos consumidores e, ao mesmo tempo, possibilita a ampliação para novos mercados. A fim de contribuir localmente, as propostas visam o desenvolvimento sustentável, baseando-se no conceito de Biorrefinaria e Economia Circular, cujo processamento do óleo para fortalecimento da economia circular em nossa região é uma das alternativas para a ampliação para novos mercados para a comunidade”, destacou a pesquisadora.
Asscom | Grupo Tiradentes