*Do portal G1
Quando terminou a faculdade, há menos de uma década, Nina Cheng não poderia imaginar que estaria agora vendendo capas para iPhone de pele de raposa por valores superiores a US$ 350 (R$ 1,1 mil).
Antes de começar seu próprio negócio, ela já tinha trabalhado em três diferentes setores – bancário, consultoria e moda. Mas, cansada do que chamou de “falta de liberdade”, decidiu se lançar em uma nova empreitada para ter maior controle sobre sua carreira.
“Quando comecei a trabalhar (durante a recessão), me considerava agradecida por ter um emprego”, diz Cheng, fundadora da Wild and Woolly, uma empresa com sede em Nova York que vende capas para celulares e brincos.
Mas depois, diz ela, “passei a sentir que precisava de uma liberdade completa para explorar outras opções”.
Cheng acabou trocando o mundo corporativo pelo empreendedor. Mudar de profissão pode parecer cansativo no início, mas ter tido experiência em diferentes setores permitiu a ela lidar melhor com eventuais frustrações.
Para muitos, o conceito tradicional de carreira está morto. Agora, movimentos laterais são tão importantes para o crescimento profissional quanto salários ou cargos mais altos.
O problema é, a cada dia que passa, parece mais difícil lidar com a imensa quantidade de oportunidades.
‘Teia ou labirinto’
“Em vez de subir degrau por degrau”, a estrutura tradicional das carreiras passou a ser “uma teia ou labirinto”, opina Katy Tynan, estrategista-chefe de desenvolvimento de talento na Coreaxix, uma consultoria que presta serviços para multinacionais.
Muitas pessoas veem essa mudança com otimismo porque “a maneira como encaramos a carreira hoje em dia força todo mundo a perseguir uma única posição no topo – e essa é a receita para a frustração”, acrescenta ela.
As gerações mais novas de profissionais tendem muito mais a fazer movimentos laterais em suas carreiras, segundo um relatório do banco britânico Barclays publicado em 2016.
Segundo o estudo, 24% dos entrevistados que tinham menos de 34 anos disseram já ter trabalhado em quatro setores diferentes, comparado com 59% dos que tinham mais de 65 anos e a experiência de “apenas” três diferentes setores no currículo.
A pesquisa acrescenta que nesse ritmo os mais jovens vão mudar de cargo sete vezes mais do que seus pais ao longo de suas vidas profissionais.
Para navegar nessa nova estrutura de carreira, as gerações mais novas vão ter que priorizar obter habilidades intangíveis em diferentes tipos de setores, argumenta Tracy Williamson, diretora de marketing do Barclays.
Segundo ela, as empresas focam hoje menos na experiência em um determinado setor e mais na capacidade de o candidato adaptar-se a mudanças no ambiente de trabalho, assim como em se comunicar por diferentes plataformas e em solucionar problemas.
Neste sentido, o novo contexto acaba com o antigo dilema de que, para crescer em determinada empresa, seria preciso esperar seu chefe – ou o chefe do seu chefe – morrer.
Mas ainda que esse novo cenário possa parecer, a princípio, libertador, ter de se reinventar a todo momento requer muito mais energia.
Exaustão
Os movimentos laterais, como por exemplo sair de uma vaga em vendas para trabalhar como consultor independente, aumentaram na última década.
Mas também trouxeram muita confusão, diz Tynan.
Com cada vez mais pessoas trabalhando como autônomos, ter sucesso na carreira não é sinônimo de atingir o topo.
“Pensar em todas essas opções é realmente desgastante”, diz Evan Polman, professor-assistente de marketing da Universidade de Wisconsin-Madison (EUA) que estuda a fadiga da decisão.
Além disso, mover-se constantemente pode dificultar a progressão na carreira, uma vez que, segundo a especialista, impede o profissional de ter um pensamento mais abrangente, necessário para crescer profissionalmente.
Mas o que fazer se você se sente sobrecarregado pela necessidade constante tanto de analisar suas opções de carreira quanto de considerar seu próximo passo profissional? Afinal, a resposta já não é mais tão óbvia quanto no passado.
Impor-se limites é um bom começo. Tynan recomenda a seus clientes que não se façam a pergunta “o que eu quero ser?” como forma de progredir na carreira.