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J. Borges, o mestre xilogravurista que conquistou o mundo

O artista pernambucano, falecido em 2024, espalhou a vida no Nordeste para vários países

às 14h39
Foto: Divulgação/Casacor
Foto: Divulgação/Casacor
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José Francisco Borges, o mestre xilogravurista J. Borges, superou as dificuldades da juventude e ganhou o mundo com sua arte, que retrata a vida no Nordeste. A arte de carimbar um desenho entalhado na madeira é uma técnica milenar chinesa, mas que foi transformada pelo pernambucano. Nascido em 1935 na zona rural de Bezerros, no Agreste, o pequeno José estudou por apenas 10 meses, quando tinha 12 anos de idade, e teve que trabalhar em várias funções. Na infância, escutava o pai lendo literatura de cordel, e acabou tomando gosto. Depois de trabalhar como pedreiro, carpinteiro, pintor de parede, dentre outras, J. Borges passou a vender cordéis e, alguns anos depois, escreveu o seu primeiro folheto.

Início da carreira

Foi pela literatura de cordel que J. Borges tornou-se o mestre da xilogravura. Com boas vendas do seu primeiro folheto, decidiu escrever mais outro e, com pouco dinheiro, acabou fazendo ele mesmo a ilustração da capa. Foi nos anos 1970 que a xilogravura de J. Borges começou a ganhar espaço. Os artistas plásticos José Maria de Souza e Ivan Marquetti, em visita a Bezerros, encomendaram as primeiras gravuras em formatos maiores, tendo como tema o folclore nordestino. Foi por influência deles que Ariano Suassuna acabou tomando conhecimento da arte de J. Borges e o convidou a dar entrevistas a vários jornalistas. A partir daí, ele não parou mais.

Carreira internacional

As gravuras de J. Borges, que começaram em preto e branco e depois ganharam cores por demanda do público, reproduzem o cotidiano do interior do Nordeste, com cangaceiros, vaqueiros e pessoas comuns. Tendo ministrado oficinas e palestras em mais de 20 países, difundindo a cultura nordestina pelo mundo, J. Borges tem obras expostas em vários museus mundo afora. Dentre eles, o Louvre, em Paris, o Museu de Arte Popular do Novo México, nos Estados Unidos, e a biblioteca do Congresso estadunidense, que inclusive tem uma coleção do artista pernambucano. Em uma reportagem de 2006 do The New York Times, J. Borges chegou a ser comparado ao pintor surrealista espanhol Pablo Picasso.

Além dos temas nordestinos, J. Borges também realizava gravuras com seres encantados, como anjos, demônios, seres alados e também animais. Chegou a ilustrar obras de diversos autores, como “As Palavras Andantes”, do uruguaio Eduardo Galeano; “O Lagarto”, de José Saramago; a edição comemorativa de 400 de “Dom Quixote”, do espanhol Miguel de Cervantes, dentre outros. O artista bezerrense ainda ganhou diversos prêmios, como a medalha de honra ao mérito da Fundação Joaquim Nabuco, em 1990, e prêmios internacionais, a exemplo do Prêmio de Gravura Manuel Mendive, na 5ª Bienal Internacional Salvador Valero, na Venezuela, em 1995.

Falecido em 26 de julho de 2024, o artista autodidata pernambucano foi poeta, cordelista e xilogravurista. Com sua arte, marcada pela vida no interior nordestino, levou a cultura da região Nordeste não apenas para o Brasil, mas também para o mundo. Mestre na xilogravura, utilizou-se da técnica milenar chinesa para consagrar-se como um dos mais importantes artistas visuais brasileiros e, com isso, tornou-se referência na arte de imprimir a madeira no papel.

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