“Cada mergulho é um flash”. O famoso bordão que veio das telenovelas resume também a cultura de superexposição da imagem através de redes sociais como o Instagram e o Facebook. Por elas, passam milhares de fotos com corpos bonitos, caras, bocas, poses, veste. Isso também acaba criando um confronto entre expectativa e realidade, ou seja, o que nas redes aparenta ser uma vida perfeita e colorida pode esconder uma normalidade puída, de tristezas, problemas e conflitos. Mas até que ponto isso interfere na auto-imagem pela qual uma pessoa é conhecida publicamente? Uma técnica para aprimorar esta auto-imagem é o chamado visagismo, expressão derivada de um termo que significa rosto.
A professora Shirlei Campos, do curso de Estética e Cosmética da Universidade Tiradentes (Unit Sergipe) explica que ele se trata da criação de uma imagem personalizada de acordo com os objetivos da pessoa e que também revele suas qualidades interiores. “O nosso rosto é a sede da nossa identidade, é quem traz muitas das nossas características, como a gente consegue olhar e caracterizar alguém pelo seu rosto. Então, a gente quer trazer para o externo as qualidades individuais que essa pessoa tem”, disse ela, acrescentando que o visagismo é muito usado hoje por grandes influenciadores digitais, que têm milhões de seguidores e são capazes de ditar modas nas redes sociais. “Eles personalizam as suas imagens de acordo com o que querem parecer para o outro. Se quero parecer determinado, focado, concentrado, leve, jovem, despojado ou antenado, eu manipulo a minha imagem pra fazer isso”, exemplifica.
Esse rosto acaba ganhando uma grande visibilidade nas vitrines das redes sociais, como o Instagram e o Facebook, pelo grande alcance de usuários, incentiva a superexposição e a atitude de projetar uma imagem desejada, como define a professora Juliana Almeida, do curso de Jornalismo da Unit Sergipe. “As pessoas começaram a utilizá-las como grandes portfólios, seja para se auto representar fisicamente ou intelectualmente, como uma projeção das ações do cotidiano. As redes sociais hoje são fortes instrumentos de entender, inclusive, o perfil de determinadas pessoas. Essa perspectiva da auto imagem é algo que a gente tem, que a gente projeta e pode ser trabalhado de diversas formas. Então, hoje não basta que você seja feliz ou que consuma. É preciso mostrar às pessoas e ter essa aprovação através de likes, compartilhamentos e comentários”, apontou ela.
Às vezes, as tentativas de melhoria da auto-imagem são mal-utilizadas e fazem com que determinadas fotos soem falsas ou fabricadas ao público. É o caso de alguns procedimentos estéticos que estão na moda, como cirurgias plásticas e harmonizações faciais, feitos muitas vezes por blogueiras que pregam a auto-aceitação. Para Shirlei, essa prática, além de se configurar como máscaras que as pessoas usam para se proteger de uma situação de medo ou dor, ou para esconder quem ela é de verdade, cria um um padrão de beleza desconfigurado, longe da realidade das outras pessoas, tidas como ‘normais’. “Isso gera muita insatisfação para o público que não tem esse conhecimento, que visualiza e não tem conhecimento que aquilo é falso”, diz a professora de Estética.
Juliana também se refere a isso ao citar casos de jovens e adolescentes do Japão que querem fazer cirurgias plásticas para ficarem iguais aos filtros existentes em redes sociais. “Essa coisa de você apagar a imperfeição, mostrar algo muito além do que você é na vida real, é extremamente danoso. Até porque, essa representação do selfie, do eu, pode não refletir uma realidade, que não é a do mundo que a gente efetivamente vive. A partir disso, podem aparecer os bullyings, e por aí vai”, afirma ela.
Usando a favor
Apesar dessa característica negativa, a valorização da imagem nas redes sociais traz um aspecto positivo: o de estimular o autocuidado e a autoestima, isto é, as pessoas passam a gostar de si mesmo e a mostrar quem ela é de verdade. “Uma pessoa ao se produzir, se maquiar, vai criar um estímulo para gostar de si. Isso é muito importante, porque ela vai olhar no espelho e vai se agradar daquela imagem. Porém, a autoestima e a autoimagem, elas devem andar juntas. Eu preciso gostar do que eu vejo no espelho, maquiada ou não. Eu preciso desenvolver em mim a capacidade de gostar do ser humano que eu sou”, pontua Shirlei. E o primeiro caminho para gostar de quem se é de verdade é conhecer a si próprio, de modo que ela cultive uma boa autoimagem estética, coerente com a realidade.
“Nós podemos cultivar uma boa autoimagem aprendendo a reconhecer, primeiro, nossas qualidades e nossos defeitos. Percebendo que somos seres humanos individuais e que todos, sem exceção, têm defeitos e qualidades diferentes, que podem fazer o mundo girar, respeitar esses limites, aprender a amar o seu corpo, a se amar como você é e a cuidar desse corpo e dessa pessoa, mas cuidar do interior e do exterior”, orienta a professora, indicando cuidados que valorizem a saúde física, mental e espiritual. “Isso faz você perceber que você cuida de si, que você gosta de si primeiro e esse gostar, esse respeitar a si mesmo, faz com que os outros também percebam que você se gosta, é uma companhia legal, é uma pessoa que amadureceu. Que consegue ver a vida longe somente da vaidade, da mídia, das redes sociais, das coisas que você quer mostrar pros outros”, concluiu.
Asscom | Grupo Tiradentes