A Organização Mundial da Saúde (OMS) define os vícios como condições de saúde que surgem do consumo frequente de substâncias psicoativas ou de hábitos repetitivos, e que prejudicam a qualidade de vida do indivíduo e daqueles à sua volta. De acordo com Tatiany Melo, professora de Psicologia do Centro Universitário Tiradentes (Unit-PE), é preciso analisar o que cada vício significa na vida do sujeito para entender a sua origem. No entanto, a especialista explica o que leva o cérebro a desenvolver uma dependência. “Tem alguns momentos da nossa vida em que estamos mais vulneráveis, porque o vício é uma busca de prazer em um momento que você não está bem”, pontua.
Ela acrescenta ainda que, nesses momentos de vulnerabilidade, é comum que se busque o bem-estar de alguma maneira, mas o organismo acaba se acostumando e passa a solicitar níveis maiores de prazer. O vício é identificado, segundo Tatiany, a partir do momento em que ele passa a causar sofrimento para o paciente. “Aquele prazer, que inicialmente era uma coisa momentânea, passa a ser algo que vai tomar uma grande parte da minha vida e vai inviabilizar a minha qualidade de vida e a minha forma de fazer as coisas”, complementa. É importante mencionar, por outro lado, que vícios também têm cargas genéticas. Ou seja, se houver histórico familiar, é mais provável o desenvolvimento de alguma dependência.
Por mais difícil que possa ser identificar, em si mesmo, que determinado hábito está se tornando um vício, Tatiany afirma que é justamente pelas mudanças no cotidiano que é possível perceber isso. “Por exemplo, uma pessoa que fazia uso da bebida todo final de semana. Depois de um tempo, ela não consegue mais esperar pela sexta-feira. Então ela tem que beber na quarta, na quinta. E aquele prazeroso encontro do final de semana passa a ser uma coisa que inviabiliza a vida dessa pessoa”, explica a psicóloga. E, como consequência, o hábito torna-se um sofrimento, o que faz o cérebro do dependente exigir mais, causando um ciclo.
O uso das redes sociais também é algo que merece atenção e que facilita o surgimento de vícios. Baseadas em conteúdos rápidos, essas plataformas têm diversas características que alteram a química do cérebro e que nos mantêm presos, como conteúdos que prometem recompensas (prazer e bem-estar) o tempo inteiro. Apesar das mídias sociais serem difíceis de evitar, Tatiany defende que existem maneiras de fugir dos vícios. “Uma coisa que podemos fazer é observar o que pode ser um processo de fuga. Por exemplo, quando eu estou muito triste, eu percebo que eu como fora daquele padrão”, ressalta.
Os vícios podem ser tratados através da psicoterapia aliada a um acompanhamento psiquiátrico, já que existem medicamentos capazes de combater as dependências. A psicóloga acrescenta que, no processo de psicoterapia, a busca pelo autoconhecimento é uma importante aliada, uma vez que a origem de um vício varia de pessoa para pessoa. “É um processo para cada um, vai depender da história de vida de cada um, do que aquele vício significa, do que levou o indivíduo àquele lugar. Mas a gente consegue ressignificar sim, porque a nossa existência é sempre maior do que qualquer psicopatologia que possa nos atingir”, conclui.