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Coleções que rendem histórias e amizades

Eles buscam peças em lojas, na internet, através de amigos e outros apaixonados por revistas, ímãs, cartas, selos, moedas, bonecos, livros, roupas, gibis e camisas. Não medem distância, nem esforços. “O bom do colecionismo é que nunca acaba. No dia que estiver completa, a coleção não vai ter mais graça”, conta um dos colecionadores entrevistados

às 19h07
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Juntar revistas, ímãs, cartas, selos, moedas, bonecos, livros, roupas, relógios, gibis, camisas. Esse é o mundo do colecionismo – a prática em que as pessoas guardam, organizam, trocam e expõem vários itens por categoria. Essa atividade, conhecida por abranger pessoas de diferentes idades e profissões, chama a atenção por ser tão importante na vida das pessoas que transformam o hobby em paixão e em primeiro plano na vida. 

E se engana quem acha que colecionar objetos pode ser estranho ou sem sentido. A ação desenvolve o senso de organização, socialização com outras pessoas e aumento do repertório cultural. Para os colecionadores, é mais que isso. É a oportunidade de se conectar com interesses pessoais e unir esforço e diversão.

Para o historiador e professor da Unit-PE, Thiago Modenesi, a coleção é variada: ele coleciona quadrinhos desde 1984, dvd’s e tem cerca de 100 funko pop’s – bonecos em miniatura com variados temas. Mas seu foco são as HQ’s, que têm seu coração há anos. “Tive contato pela primeira vez na década de 80, em São Paulo, com quadrinhos europeus e adquiria numa livraria chamada Muito Prazer. Eu ia lá uma vez por mês, com minha vó. Tive acesso também aos quadrinhos nacionais, que eram publicados e comercializados em bancas de jornal”, recorda Thiago.

Diferentes títulos nas viagens

A coleção cresceu depressa: Thiago tem dez estantes com cerca de 20 mil quadrinhos – nacionais e importados – e continua adquirindo os materiais, de forma online e presencial. “Eu compro meus quadrinhos na banca Guararapes, no Centro de Recife, mas diminuí um pouco a ida por conta da pandemia. Adquiro também em lojas virtuais, como Amazon e Comics, além de sempre procurar diferentes títulos nas viagens que faço, em países como Colômbia, Peru, Estados Unidos e Portugal”, contou.

Nos roteiros por outros lugares, ele revela que encontrou novas oportunidades de buscar quadrinhos e alimentar sua coleção: “sempre que eu viajo, procuro trazer quadrinhos diferentes. Colecionar histórias em quadrinhos, hoje em dia, não é uma coisa simples porque é toda uma pressão para as pessoas não terem coisas armazenadas em casa, como é o caso de CD e DVD, que sumiram por causa dos streamings. Mas os quadrinhos online não fizeram sucesso no Brasil, então ainda tenho o hábito desse colecionismo. Eu sou daqueles que gostam do cheiro do livro novo. É uma coisa apaixonante”, afirmou Thiago.

Juntava dinheiro de lanche para poder comprar

Outro colecionador apaixonado é Paulo Roberto. Ele é supervisor de uma empresa têxtil e desde os oito anos de idade reúne em casa miniaturas de helicópteros, aviões, navios e tanques de guerra, que têm um nome específico: plastimodelismo. “Só de helicópteros, acho que tenho uns 80. São várias marcas e tipos diferentes de modelos. Eu tenho um quarto só para guardar isso aí. São histórias incríveis de juntar dinheiro de lanche para poder comprar e guerrinhas que eu fazia com eles quando era pequeno”, recordou Paulo. Sua paixão começou quando seu vizinho, na época, o cantor pernambucano Silvério Pessoa, o introduziu no universo. Desde então, ele começou a se interessar pela compra e coleção dos mini objetos. 

As amizades deste universo vieram naturalmente, a partir de encontro em exposições, eventos e fóruns online, com histórias inesquecíveis para Roberto. “Tenho momentos bacanas. Um amigo meu veio do Rio Janeiro e ele tinha um avião que só tinha as duas asas esquerdas e nas minhas sucatas, eu tinha todas as outras peças da parte direita. Quando eu entreguei a ele, começou a chorar, dizendo que era como se o pai tivesse devolvido isso. A gente é amigo até hoje por causa disso. É muito legal porque a gente troca ideias, busca informações na internet, tira as crianças do computador e nos reunimos”, ressaltou Paulo.  

Filatelismo e Jogos de Tabuleiro

O mundo da filatelia – o colecionismo de selos postais e materiais relacionados – ocupa o coração de Amaro Braga há anos. Professor de Sociologia, a história e as lembranças o atraem na preservação desses objetos. Ele também coleciona quadrinhos e jogos de tabuleiro modernos. “Coleciono selos, mas agora a coleção está desatualizada. Infelizmente, depois que os correios brasileiros permitiram que qualquer um fizesse seu selo e passou a usar as máquinas de carimbo, perdi um pouco o encanto. Só guardo agora alguns internacionais que chegam na minha mão, e sempre os usados que já tenham viajado. Tenho dezenas de pastas com selos do mundo todo, que mesmo parada, tenho preservado”, explicou Amaro.

Além de seu interesse por selos, que o rendeu um título de vice-presidente do membro do clube de filatelia entre 1993/1994 e uma participação em uma matéria no jornal de sua coleção em 1997, ele ainda tem cartões telefônicos, cartas, HQ’s e jogos de tabuleiro. O motivo de sua paixão? A mesma que impulsiona seu trabalho: a vontade de buscar e explorar. “Me juntei ao colecionismo pela ideia de descobertas, de catalogar as coisas e ter amostras diferentes. A essência de pesquisador que me levou à academia, para estudar justamente as coisas que eu colecionava”, falou.

Em relação ao armazenamento, Amaro explica que é necessário todo um processo, para que a coleção seja devidamente protegida e bem cuidada. “Guardar coisas, seja o que for, exige muito dos colecionadores. Controlar pragas como traças, cupins, insetos e mofo. É uma fiscalização constante para as coisas não estragarem. É preciso considerar temperatura, luz e umidade, por causa da preservação e pela possibilidade de revender o material para outras pessoas”, salientou. E sua coleção não para: com mais de 250 jogos de tabuleiro diferentes, ele continua de olho nos locais de venda, sendo compras online – no Brasil e no exterior – o local de maior engajamento. 

“O bom do colecionismo é que nunca acaba”

Há sete anos, Wagner Soares se tornou, de fato, colecionador de camisas de times de futebol. O vendedor já tinha antes cerca de 20 camisas, mas foi em 2014 que tudo começou. O foco são camisas do Sport, mas também há de times do Brasil, exterior e de seleções. Hoje, são cerca de 300 peças, guardadas em guarda-roupa e caixas de organizadores. “Quando eu me mudar vou colocar em local específico”. 

Para ampliar esse acervo, ele busca em lojas ou pela internet como redes sociais, OLX, mercado livre e até mesmo em páginas de compras. Uma história marca esse garimpo. Wagner caminhava pelo centro da cidade, quando encontrou um senhor que usava a camisa do Grêmio, da Libertadores de 1995. Era oficial e estava em boa conservação. Abordou para tentar adquirir, mas o senhor se negou. Acabaram conversando por 40 minutos sobre futebol, em uma banca de games antigos. Ao término do papo, para a surpresa de Wagner, o senhor retirou outra camisa que tinha na mochila e entregou a do Grêmio que usava. Wagner tentou pagar, mas o senhor disse que estaria em boas mãos e bem cuidada. 

“O bom do colecionismo é que nunca acaba. No dia que estiver completa, a coleção não vai ter mais graça. A graça é correr atrás. Trato como um hobby muito prazeroso”, completa. Para ele, não é só conseguir uma peça. Mas render histórias e muitas amizades espalhadas pelo mundo afora.

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