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Cobertura vacinal da população cai e preocupa especialistas

Dados do Ministério da Saúde mostram que números de imunizados contra várias doenças, incluindo as controladas ou erradicadas, caíram significativamente nos últimos anos

às 20h54
As campanhas anuais de vacinação foram responsáveis pelo controle e pela eliminação de várias doenças, como a poliomielite (Fernando Frazão/Agência Brasil)
As campanhas anuais de vacinação foram responsáveis pelo controle e pela eliminação de várias doenças, como a poliomielite (Fernando Frazão/Agência Brasil)
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Especialistas em saúde pública estão cada vez mais preocupados com a diminuição da cobertura vacinal da população brasileira, principalmente em doenças que eram – e ainda são – eliminadas e controladas no país. Dados do Datasus, setor que reúne dados e estatísticas relacionadas ao Sistema Único de Saúde (SUS), mostram que o Brasil está há praticamente sete anos sem alcançar o patamar mínimo de 95% da população imunizada com algum tipo de vacina, independente do tipo de doença. 

A última vez em que isso aconteceu foi em 2015, quando o índice de cobertura foi de 95,07%, dentro do que é preconizado pelo Ministério da Saúde. Nos anos que se seguiram, manteve-se entre 50,44% em 2016 e 77,13% em 2018. Em 2021, sob efeito de algumas fases da pandemia, 59,94% dos brasileiros receberam alguma vacina. E neste ano de 2022, até meados deste mês de setembro, esse índice estava em 44,11%. 

Entre as 19 doenças combatidas por vacinas constantes no Programa Nacional de Imunização (PNI), as que tiveram maior queda de cobertura vacinal no Brasil foram a rubéola, a febre amarela, o rotavírus e as hepatites virais. Para o médico Matheus Todt Aragão, infectologista e professor do curso de Medicina da Universidade Tiradentes (Unit Sergipe), “a redução da cobertura vacinal que temos observados, sobretudo na última década, expõe desnecessariamente a população a doenças graves e mesmo fatais que estavam controladas”.

Uma delas é o sarampo, cujo vírus foi reintroduzido no Brasil em 2018, apenas dois anos depois de o país ter recebido o certificado de território livre da doença. Mas o caso mais grave é o da poliomielite, conhecida também como paralisia infantil, que teve o seu último caso registrado no Brasil em 1989, graças à existência e estruturação do PNI, criado em 1973 e operacionalizado pelo SUS. 

“O PNI traçou estratégias de vacinação de rotina e de campanha que ajudaram na conquista de certificação de eliminação dos poliovírus selvagens 2 e 3, que causam poliomielite. Até o momento, o PNI mantém a eliminação da doença, mas se as coberturas continuarem baixas, possivelmente ela pode voltar”, afirma Paula, acrescentando que “ainda há possibilidade de adoecimento pela poliomielite causada pelo poliovirus 1”, disse a professora Maria Paula Reis Futuro, professora e preceptora de estágios do curso de Enfermagem da Universidade Tiradentes (Unit Sergipe). 

Na última quarta-feira, 21, a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), alertou que o Brasil e mais 11 países da América Latina correm risco de surto da doença, por terem a cobertura vacinal abaixo de 80%. A doença provoca paralisia em partes do sistema nervoso e não tem cura, mas pode ser prevenida apenas com a vacinação. 

Causas e consequências

Um dos fatores que podem explicar tamanha queda de adesão da população às vacinas é a desinformação propagada por movimentos anti-vacina, que surgiram na Inglaterra ao final da década de 1990 e se espalharam a partir de artigos científicos fraudados. Com o avanço das redes sociais e da internet, as chamadas fake news (notícias falsas) espalharam esses movimentos ainda mais pelo mundo, o que acabou chegando ao Brasil e interferindo diretamente nas estratégias de vacinação. “Infelizmente, na pandemia da Covid-19, a população foi induzida à incerteza pela falta de informação e conscientização. Ainda ouvimos discursos de que as vacinas possuem chips, que mudam nosso DNA, e outros mais”, lamentou a professora. 

Com o PNI, criado em 1973 pelo Ministério da Saúde, o Brasil foi adquirindo experiência e tornou-se uma referência mundial em imunização, com as campanhas nacionais de vacinação, o estabelecimento de um calendário de rotinas vacinais e a execução do programa pelo SUS (Sistema Único de Saúde), que garante a distribuição e a aplicação dos imunizantes em todos os 5.570 municípios brasileiros. 

“O Brasil historicamente é um país exemplar em vacinação. Sempre tivemos uma cobertura vacinal muito boa, conseguindo erradicar doenças relativamente comuns em boa parte do mundo. As vacinas foram exaustivamente estudadas quanto sua eficácia e segurança, além de serem diretamente responsáveis pela erradicação de epidemias devastadoras (como da varíola, da febre amarela e, mais recentemente, da COVID-19). É fato que muitos de nós estão vivos hoje devido a vacinação massiva que houve no passado”, assegura Matheus.

Os especialistas defendem uma intensificação maior destas campanhas de vacinação, com foco no combate às fake news e no esclarecimento da população quanto à importância da vacinação. “A população pode ser melhor conscientizada com campanhas constantes de orientação sobre a importância da imunização e com o combate intenso à desinformação. A população tem que saber, sem sombra de dúvidas, que a vacinação é segura e que salva vidas”, reforçou Todt.

Para Maria Paula, essas campanhas precisam fortalecer suas equipes de Saúde da Família, contemplar as populações com maior vulnerabilidade social e ter uma maior participação de outros entes da sociedade, como instituições de ensino, conselhos de classe, hospitais e clínicas. “A população é melhor conscientizada quando a informação é propagada de forma clara e embasada cientificamente, por meio de profissionais capacitados de órgãos e instituições de saúde competentes”, defende a enfermeira. 

As instituições do Grupo Tiradentes em Sergipe, Alagoas e Pernambuco participam diretamente desse engajamento em favor das vacinas, seja pela atuação direta de alunos, professores e preceptores de Enfermagem, Medicina e outros cursos de saúde, seja através de parcerias com as prefeituras de cidades como Aracaju, Maceió e Jaboatão (PE), cedendo seus espaços para a instalação de postos de vacinação contra a Covid-19 e outras doenças. 

Asscom | Grupo Tiradentes

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