Aquela, definitivamente, não era mais uma notícia policial ou mais um caso levado a público pelo experiente repórter Valmir Salaro, da TV Globo. O caso “Escola Base” é considerado até hoje uma grande cicatriz para o jornalismo brasileiro e também para a Justiça. Vinte e sete anos depois, um documentário lança luz à história e mostra o que podemos aprender com os erros da imprensa.
Com o título “Escola Base: um repórter enfrenta o passado”, o documentário produzido pelo próprio repórter traz o caso que mudou a forma como o jornalismo retrata os casos policiais. Era março de 1994, quando os donos de uma escola de São Paulo foram acusados pela polícia de abusar sexualmente de crianças, e depois inocentados. Mas, até tudo ser esclarecido e os empresários considerados realmente inocentes, um grande estrago havia sido feito. A escola, imediatamente foi fechada, e os donos perseguidos pela imprensa e por uma legião de pessoas revoltadas com o casal que até então era considerado pela mídia e pelas autoridades como “abusadores sexuais”.
“A grande lição que podemos tirar desse caso sob o olhar jornalístico é que o jornalista precisa estar em um processo contínuo de checagem e rechecagem das informações, ou seja, aquelas informações que chegam até nós por documentos, depoimentos e de falas de outros pode estar contendo informações precipitadas ou incorretas. No caso da Escola Base, foi informação precipitada.”, enfatiza o professor Roberto Amorim, coordenador operacional do curso de Jornalismo do Centro Universitário Tiradentes (Unit Alagoas).
Amorim lembra que, naquele momento, Salaro deu a informação do suposto abuso porque se baseou em uma fonte considerada segura, que era do Instituto Médico Legal de São Paulo (IML/SP) e o qual dizia que um menino matriculado na escola tinha sido molestado. “O erro começou com a fonte oficial e isso reforça que a gente enquanto jornalista precisa desconfiar, inclusive, das fontes oficiais e checar essas informações passadas por elas, pedindo documentos, ouvindo outras fontes oficiais e não oficiais também, mas que entendam do assunto. Pois, o que fica claro no documentário é que houve um prejuízo imenso em relação às pessoas atingidas”.
Busca da verdade
Nos cursos de jornalismo, o caso Escola Base sempre é citado e debatido. Tudo porque ele deixou uma cicatriz na história da imprensa. O professor da Unit destaca que o Jornalismo é tudo uma profissão que busca a verdade dos fatos, e que encontrar essa verdade é uma busca incessante, pois falhas e distorções podem estar presentes em todas as fases do processo jornalístico.
“O que deve ser prioridade é a natureza do jornalismo, que é investigar. Esse é um processo lento, que exige pesquisa, observação, documentação e entrevista. Principalmente nesses tempos de redes sociais, internet, webjornalismo, a questão do tempo, a pressa em divulgar primeiro, deve ser repensado. É melhor divulgar depois, com consistência e certeza da apuração do que na pressa e ocasionar danos graves como é o caso retratado pelo documentário”, diz Amorim.
Asscom | Grupo Tiradentes