*Do G1
Muitas pessoas fizeram promessas de Ano Novo, mas a esta altura já postergaram seus planos para 2018. Mas por que adiamos coisas que devemos – e às vezes queremos – fazer?
A procrastinação – a mania de adiar uma ação ou um tarefa, de “deixar para amanhã” – é um problema comum, que afeta especialmente estudantes e acadêmicos.
Segundo o psicólogo Tim Pychlyl, da Universidade de Carleton no Canadá, a procrastinação é “na atualidade, o problema mais grave da educação”.
Ele integra um grupo especializado que investiga o assunto há 20 anos, com dados coletados em diversas partes do mundo, para “entender porque às vezes nos tornamos nosso pior inimigo com atrasos desnecessários e voluntários” de nossas tarefas.
Faço amanhã
Uma conversa que Pychlyl teve com estudantes foi disponibilizada no YouTube e teve uma audiência de 170 mil pessoas. Nela, ele explica que deixar algo para depois pode afetar as qualificações e a saúde mental e física – e aumenta o abandono escolar.
Os professores sofrem do mesmo mal, como atesta a quantidade de entradas no Twitter falando da batalha entre corrigir provas e ver séries de televisão e sobre o que se chama de “culpa do escritor”: a sensação de que se é egoísta, idealista e irresponsável de ficar escrevendo ao invés de fazer algo mais rentável e prático.
E quando se estuda no computador o problema pode ser ainda maior. Agora com um só click é possível sair do ensaio que se está escrevendo e ver um vídeo de gatos ou vasculhar o perfil de sua ex-namorada nas redes sociais.
Para Pychyl, procrastinação é tomar a decisão de não fazer algo mesmo se sabendo que a longo prazo isso será pior.
De acordo com ele, não se trata de uma questão de gestão de tempo e sim de uma incapacidade de controlar emoções e impulsos.
“Quando procrastinamos, estamos tentando melhorar nosso estado de ânimo evitando fazer algo que nos parece desagradável”, afirma.
“É como ficar bêbado ou comer para se consolar: é uma estratégia que nos faz sentir melhor ao nos distrairmos com um prazer de curto prazo e esquecermos o problema”.
O que podemos fazer?
A procrastinação é mais comum em quem é mais impulsivo, propenso ao perfeccionismo, se sente oprimido pelas opiniões dos outros ou teme o fracasso.
Ela afeta mais os jovens, pois adultos conseguem se controlar melhor à medida que o cérebro se desenvolve.
Baseando-se na pesquisa da psicóloga Fuschia Sirois, da Universidade de Sheffield, Pychyl afirma que todos podemos reduzir a procrastinação seguindo alguns passos. Veja abaixo:
1) Practique técnicas de “mindfulness” e meditação para controlar os pensamentos negativos
“Usando técnicas de mindfulness, consciência plena (ou atenção plena), podemos perceber que não queremos fazer algo sem julgar esse sentimento. Isso nos ajuda a perceber que a tarefa deve ser realizada e começá-la”, diz o psicólogo.
“Depois, quando avançamos na tarefa, nos sentimos melhor e isso faz com que seja mais fácil continuar”.
A Universidade de Buckingham, na Inglaterra, introduziu em suas atividades, por exemplo, sessões de técnicas que promovem a consciência plena para estudantes e professores a fim de combater a procrastinação.
2) Divida tarefa em passos claros e controláveis
Uma das razões de adiarmos o que devemos fazer é que as metas a que nos propomos são em geral grandes e vagas – o que as faz intimadoras e desagradáveis.
Assim, em vez de se propor a “entrar em forma” ou “escrever um romance”, tente metas como “colocar o traje de exercícios” ou “decidir o nome do personagem principal”.
Na Universidade de Warwick são conduzidas aulas de mapeamento mental para estudantes. A técnica ensina a dividir tarefas difíceis nos passos necessários para completar seus projetos.
3) Não se castigue por procrastinar
A pesquisa de Pychyl mostra que os estudantes que se perdoam por procrastinar tendem a não repeti-lo em sua próxima tarefa.
Quanto mais culpa e raiva você sentir por privar o mundo de seu romance neste ano, terá menos possibilidade de terminá-lo em 2018.
4) Apoie-se em bons hábitos que você já tem
Pychyl dá um exemplo corriqueiro: ele finalmente conseguiu obedecer a recomendação de seu dentista de usar fio dental ao combinar a tarefa com o hábito de escovar os dentes.
Ele se comprometeu a primeiro passar o fio dental todas as vezes que ia escovar os dentes. Em pouco tempo passou a fazer a tarefa sem pensar sobre ela.
5) Pense no ‘eu futuro’
Em uma experiência, um grupo de pessoas foi apresentado a retratos delas mesmas envelhecidas eletronicamente. Muitos passaram a reservar mais dinheiro para a a aposentadoria, pois passaram a sentir um laço mais forte com seu “eu futuro”.
Em uma situação mais corriqueira: quando é necessário entregar um trabalho às nove da manhã imagine a si mesmo tentando terminá-lo desesperadamente na madrugada. Isso pode ajudar a começar a tarefa mais cedo.
6) Entenda a importância do que deve ser feito
Pychyl diz que a procrastinação frequentemente reflete um problema existencial mais profundo de falta de identidade ou direção na vida.
Procrastinamos quando a tarefa parece tediosa ou menos significativa. Assim, é preciso não esquecer da razão porque se está realizando a tarefa e como ela se encaixa em suas ambições.
É simples como lembrar que fazer um trabalho ajudará a conseguir um diploma, que é indispensável para o sonho de ser doutor.
Lições contra a procrastinação
Se esses passos são tão efetivos, não deveriam ser ensinados nas universidades e nos locais de trabalho?
Muitas universidades já produzem guias sobre procrastinação para estudantes.
Contudo, Pychyl critica o fato de estes se focarem na habilidade para dispor do tempo em vez de atacar razões de fundo.
“Os professores devem avaliar como os estudantes estão se sentindo e ajudá-los a entender porque estão deixando as coisas para depois”, opina.
“Se puderem aprender a controlar suas emoções, será uma grande ajuda em todas as áreas de suas vidas”.