Trânsito complicado pelo excesso de veículos, malhas viárias sem a devida manutenção e a conhecida falta de mobilidade, já fazem parte da rotina de quem precisa se locomover diariamente no Recife.
Ocasionalmente podem ocorrem acidentes envolvendo vítimas, e dependendo da gravidade, o tempo de chegada dos primeiros socorros pode ser crucial para salvar vidas.
Por isso, foram criadas pelo SAMU, as motolâncias – uma mistura de moto e ambulância – conduzidas por profissionais habilitados em prestar atendimento a acidentados em tempo hábil e com segurança.
No Recife, Jussara Melo, aluna do 9º período de Enfermagem, da UNIT, é a primeira mulher a atuar como socorrista em motos nas ruas da capital, e atualmente, a única em Pernambuco.
Há três anos trabalhando no serviço de atendimento médico, a socorrista uniu o aprendizado teórico da faculdade, com o intenso treinamento prático com aulas de técnicas de velocidade e pilotagem avançada, em pista interna e em terreno acidentado.
Por dia, a socorrista atende de 6 a 8 ocorrências, sendo as quedas de moto e colisões entre carros e motocicletas, as de maior frequência, com prevalência de casos nos finais de semana e no período da noite.
Durante a seleção, Jussara enfrentou a concorrência com outros 14 candidatos, sendo a única mulher aprovada.
Segundo ela, um dos episódios mais marcantes do treinamento ocorreu após uma tentativa de descida de rampa com a motocicleta. A então aprendiz se desequilibrou e literalmente “voou” com a moto, caindo com a lateral do corpo numa escadaria.
“Por conta das fortes dores, e dificuldade em respirar, fui levada às pressas ao hospital. Enquanto esperava o resultado da radiografia, pedi ao médico que receitasse o anti-inflamatório mais potente, pois de outra forma, perderia o treinamento e consequentemente a vaga. Ele sorriu, e confirmou que não havia problemas mais sérios, mas alertou que eu permaneceria sentindo fortes dores por quase um mês. No mesmo dia do acidente, voltei à base e sem conseguir andar direito, e precisar de ajuda na colocação do traje de proteção, consegui concluir as aulas práticas e ser aprovada, pois quando subia na moto, tudo passava”, relata.
Sempre em regime de prontidão, Jussara trabalha uma jornada de 12 horas, com folgas de 60 horas, numa rotina que inicia às 05h40, quando acorda e organiza a ida da filha de 14 anos ao colégio. Em seguida, toma café da manhã com os pais, sobe na moto e segue para o trabalho.
“Além de conciliar os estudos, as aulas no turno da noite, já que me formo no final do ano, e o trabalho como motolância, também tiro plantões extras por fora para aumentar a renda, e corro pra resolver coisas de casa, como fazer compras e pagar as contas, mas sempre contando com apoio dos meus pais”, conta Jussara.
Após formada, a socorrista pensa em continuar atuando na profissão e pretende investir ainda mais nos estudos. “Já estou em fase de produção do meu TCC, onde pesquiso sobre o estresse em policiais militares, como fator desencadeador de casos de hipertensão arterial. E no próximo ano, inicio minha pós-graduação em UTI e Emergência hospitalar”, finalizou a esforçada Jussara.
MOTOLÂNCIAS – As Motolâncias prestam socorro à vítimas de acidente de trânsito e outros atendimentos emergenciais. O material que equipa as bolsas da dupla que normalmente se encaminha as ocorrências são os mesmos de uma ambulância básica, em menor quantidade.
O condutor necessita de pré-requisitos: curso técnico em Enfermagem, carteira de habilitação A, curso de condutor de veículo de emergência, curso de pilotagem defensiva, experiência mínima de dois anos em atendimento de emergência e curso de suporte básico de vida.
As primeiras motolâncias chegaram ao Recife, em 2009, sendo prioritariamente conduzidas por homens. No baú de carga do veículo, são levados colares cervicais, desfribilador, talas para imobilização, estetoscópio, cilindros de oxigênio, luvas, ataduras e outros materiais.