Por sua bravura e histórico de movimentos revolucionários, o estado de Pernambuco é conhecido como o Leão do Norte. Mesmo que o animal não seja comum da fauna brasileira, o povo pernambucano passou a ser associado ao rei da selva séculos atrás. A presença do leão em terras pernambucanas remonta ainda aos tempos das capitanias hereditárias, ainda na época colonial. Mais tarde, com a presença holandesa no nordeste brasileiro, a figura do leão começou a se firmar, mas se consolidou com as várias revoltas lideradas por Pernambuco.
Capitania hereditária
A imagem do leão já estava presente no brasão de Duarte Coelho Pereira, que foi o primeiro donatário da capitania de Pernambuco. Em seu trabalho na gestão do pedaço de terra que lhe havia sido dado pela coroa portuguesa, Duarte Coelho fundou a cidade de Olinda, que viria a se tornar a capital de Pernambuco, antes de Recife. Ainda hoje, no brasão da Marim dos Caetés, figura a imagem de um leão vermelho, tal qual no brasão do donatário. Assim como o brasão e a bandeira da cidade de Olinda, o escudo de armas de Duarte Coelho também é considerado um dos símbolos do município.
Brasil Holandês
No século XVII, o conde alemão-neerlandês Maurício de Nassau desembarca no Brasil para administrar a região tomada pelos holandeses. Em seu escudo de armas, está a figura do leão neerlandês, que hoje está presente na bandeira e no brasão da capital pernambucana. O animal passou a ser símbolo da Holanda por influência de Carlos V, imperador do Sacro Império Romano-Germânico. O monarca usou a figura do rei da selva no início do século XVI, durante seu império na região onde hoje é a Holanda. Com a administração de Nassau do chamado Brasil Holandês, cuja capital era Recife, a presença do leão se firmou em Pernambuco.
Século XIX
Já próximo à independência do Brasil em relação a Portugal, que aconteceu no ano de 1822, o povo pernambucano passou a nutrir um sentimento negativo em relação aos colonizadores. É isso que aponta o livro “Um Leão na Paisagem”, da designer pernambucana Gisela Abad, fruto de uma pesquisa sobre o uso do animal em marcas do estado entre os anos de 1886 a 1996. Segundo a escritora, no século XIX surge a “lusofobia”, pois os comerciantes pernambucanos se sentiam excluídos do mercado de trabalho pelos portugueses.
Aliado a esse sentimento de insatisfação com Portugal, os pernambucanos se inspiraram em ideais republicanos, vindos de outros países da América que começavam a se tornar independentes. Nesse contexto, eclode a Revolução Pernambucana, em 1817, que transforma Pernambuco em um país independente e cria a bandeira que é usada até hoje. A condição de Pernambuco como país durou apenas 74 dias.
Anos depois, em 1824, os pernambucanos se envolveram em mais um movimento revolucionário: a Confederação do Equador. Com o Brasil já independente de Portugal, a província de Pernambuco não estava satisfeita com o reinado de Dom Pedro I. Por isso, declarou mais uma vez independência do poder central, mas dessa vez com o apoio de Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. Juntos, formaram a Confederação do Equador, um país independente e republicano, mas que durou apenas cinco meses.
Com a influência dos brasões de Duarte Coelho Pereira e de Maurício de Nassau, a figura do leão passou a ser associada ao estado de Pernambuco. Com a força e a garra dos pernambucanos para lutar pelos seus ideais e por aquilo que acredita, a fama de Leão do Norte apenas se concretizou. Um bom exemplo disso é a música “Sou de Pernambuco”, de Raul Moraes, lançada na década de 1930, que, em 1993, foi regravada pelo recifense Lenine.