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O que as pessoas ainda pensam sobre o autismo? 

Debate sobre uma lei estadual vetada em São Paulo mostra que a sociedade brasileira ainda tem muitos preconceitos e visões distorcidas sobre o autismo

às 12h38
O autismo não é uma doença, mas sim um distúrbio do neurodesenvolvimento, que afeta 1 em cada 36 crianças apenas nos EUA (Mikhail Nilov/Pexels)
O autismo não é uma doença, mas sim um distúrbio do neurodesenvolvimento, que afeta 1 em cada 36 crianças apenas nos EUA (Mikhail Nilov/Pexels)
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“As pessoas são tão belas quanto um pôr do sol quando as deixamos ser. De fato, talvez possamos apreciar um pôr do sol justamente pelo fato de não o podermos controlar”. A reflexão do psicólogo americano Carl Rogers (1902-1987) ajuda a explicar a forma como se deve lidar com o autismo, uma condição que afeta uma em cada 36 crianças de 8 anos apenas nos Estados Unidos, segundo estatística recente do CDC, a agência pública de saúde do país. No Brasil, ainda não há dados consolidados sobre quantas pessoas possuem o transtorno, e isso ainda deve ser apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a partir de dados coletados durante o Censo 2022.

O assunto ressurgiu por força da polêmica que envolveu o veto dado em fevereiro a uma lei estadual de São Paulo que concede validade indeterminada a laudos médicos que atestam os diagnósticos do chamado Transtorno do Espectro Autista (TEA) e suas deficiências associadas. A decisão do governador Tarcísio de Freitas tinha a justificativa que o autismo seria supostamente “curado” em crianças que passarem por tratamento, um argumento rebatido e criticado por especialistas e por familiares, incluindo o apresentador Marcos Mion, que é pai de um garoto com autismo. Com a reação, a Assembleia Legislativa paulista derrubou o veto, e Tarcísio sancionou a mesma lei no dia 6 de março, após admitir o erro. 

O episódio mostra que a sociedade brasileira ainda tem muitos preconceitos e visões distorcidas sobre o autismo, e que acaba limitando a possibilidade das pessoas com essa condição. “Vivemos em uma sociedade extremamente pautada em estereótipos e, infelizmente, colocaram o autismo em um ‘lugar’ que diminui as pessoas que têm autismo. O próprio modo de que nos referimos a essas pessoas é limitante, os chamamos de ‘autistas’. Mas eles não são apenas isso. Eles são Joãozinho, que gosta de dinossauro, ama dançar tal música, não gosta de ser abraçado e tantas coisas mais”, esclarece a  psicóloga Ana Noriko Shiki (CRP 02/15853), professora e coordenadora do curso de Psicologia do Centro Universitário Tiradentes (Unit Pernambuco). 

E este, de acordo com a coordenadora, é o maior erro que as pessoas cometem ao lidar com uma pessoa autista. “Cada pessoa tem seus interesses, habilidades e limitações. Nós somos assim e as pessoas que possuem autismo também. No entanto, quando estão em um CID [Classificação Internacional de Doenças], parece que estamos decretando o potencial (ou até mesmo a falta dele)”, afirma ela, evocando a frase de Carl Rogers. “Com as pessoas com autismo, poderíamos ajudá-los a se desenvolver naquilo que ele necessita, porém os deixando ser a seu modo também, sem sacrificar o modo daquela pessoa se mostrar para nós”, acrescenta.  

Um dos pensamentos mais comuns que ainda existem é de que o autismo seria uma doença, o que não é verdade. Ana Noriko esclarece que o autismo não é uma doença, e sim um distúrbio do neurodesenvolvimento que afeta em diferentes graus as habilidades sociais, de comunicação e comportamento. Ainda segundo ela, vários fatores são apontados como facilitadores do desenvolvimento dessa condição, incluindo fatores genéticos e ambientais, mas ainda não há um consenso sobre a causa específica.

As alterações de comportamento são outra característica que muitas pessoas associam de forma preconceituosa às pessoas autistas. Isso acontece devido às dificuldades de interação e de comunicação que essas pessoas apresentam. “É como um bebê, por exemplo, ele não sabe comunicar o que lhe aflige, então ele chora. As pessoas com autismo podem apresentar maiores dificuldades de comunicar  aquilo que pensam e sentem, além disso, eles também podem ter algumas hipersensibilidades (sensoriais, auditivas, por exemplo) que os deixa mais vulneráveis a fatores externos. A soma desses fatores podem gerar maior resistência que poderá culminar em comportamentos indesejados socialmente. No entanto, vale ressaltar que eles precisam ser acolhidos nessas ‘entrelinhas’ e compreendidos para ajudar a sanar aquilo que está gerando o desconforto” afirma Noriko.

Os autistas precisam passar por acompanhamento especializado, com profissionais de áreas como neurologia, psicologia, fonoaudiologia, fisioterapia, terapia ocupacional e psicopedagogia. No entanto, outro ponto considerado fundamental é o acolhimento de todos os setores da sociedade a estas pessoas, o que passa por um maior e melhor conhecimento e esclarecimento das pessoas sobre o que é o autismo. “Acredito que toda sociedade precisa compreender melhor as diferenças, e o autismo entra também nisso. Precisamos nos informar para orientar e ajudar aqueles que precisam”, conclui a professora.

Asscom | Grupo Tiradentes

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