O empoderamento feminino também pode vir por meio da linguagem? Pela maneira como falamos? A resposta é sim, segundo a escritora e crítica literária Heloísa Buarque de Holanda, uma das pioneiras nos estudos sobre feminismo e gênero no país. Esse poder da linguagem vem sendo utilizado como um grande aliado pelas novas gerações para abolir, por exemplo, expressões machistas e pejorativas, bem como para difundir uma cultura de empoderamento feminino.
A linguagem é algo fundamental, seja na aprendizagem propriamente dita, no desenvolvimento do ser humano ao longo da vida, e em seu posicionamento social e político. A palavra é considerada a coisa mais importante para a vida em sociedade, e esse movimento de empoderamento por meio da linguagem tem se difundido e já é foco de estudos de linguistas.
Em diversas entrevistas para sites e plataformas de podcasts, a escritora, que realiza um estudo profundo sobre o assunto, afirma que todos os termos machistas e misóginos que a gente acaba usando em nosso cotidiano, acabam ofendendo muitas vezes sem perceber, de tanto que essa cultura está enraizada na sociedade.
“Costumo dizer que o feminismo começa a ganhar corpo e força pela fala. É através da linguagem que tudo acontece e foi desta forma que lá atrás o feminismo propriamente dito surgiu, ou seja, naqueles grupos de mulheres que se reuniam para dizer o que queriam e do jeito que queriam, e assim começou o movimento feminista”, diz ela.
Heloísa lembra que quatro ondas demarcam a atuação do movimento feminista. A primeira, no início do Século XX, marcou a busca pelo direito ao voto e à educação. A segunda, na década de 1960, marca a luta das feministas contra o papel da mulher de ‘dona do lar’, além da reinvindicação pelo direito ao próprio corpo, ao aborto, à liberdade sexual e ao uso de anticoncepcionais. Nos anos 1980, a terceira onda trouxe o pensamento feminista com as primeiras publicações e livros conceituando e refletindo o feminismo.
“Já a quarta onda é a que vivenciamos hoje, com essa nova geração, que usa a linguagem, a palavra propriamente dita, para informar, disseminar informação a respeito de termos e palavras ofensivas e machistas presentes nas expressões, que muitas vezes inconscientemente usamos por causa de uma naturalização enraizada ao longo do tempo em nossa sociedade”, pontuou a escritora.
Asscom | Grupo Tiradentes