O agronegócio é uma área que tem gerado uma grande movimentação econômica e lucrativa no Brasil. Durante a pandemia de Covid-19, foi o setor de oferta que mais cresceu, somando US$ 100,81 bilhões, segundo dados do boletim da Secretaria de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Já o levantamento do Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro, realizado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), aponta que ele cresceu 4,33% no segundo trimestre de 2021, o que demonstra um acúmulo de alta na ordem de 9,81%.
O antropólogo Pedro Simonard, professor do Programa de Pós-Graduação em Sociedade, Tecnologia e Políticas Públicas (Sotepp), do Centro Universitário Tiradentes (Unit Alagoas), define que o agronegócio pode ser desenvolvido em duas bases – a empresarial e a familiar – e que elas têm características diferentes e claras.
“O primeiro é um formato predatório associado sobretudo ao latifúndio e ao grande capital. Esse modelo, que vemos na propaganda da TV, é realizado de modo exploratório, com uso excessivo das terras e da água, o que é um problema. O segundo, por sua vez, produz alimentos que vão, quase sempre, direto para o prato do brasileiro. São verduras, legumes, frutas e, sobretudo, alimentos com quase nenhuma ou nenhuma defensiva agrícola. Então é importante a gente ter essa diferenciação sobre o agro”, explica.
Agronegócio empresarial
Na visão do professor Simonard, as características de exploração intensiva dos recursos, bem como seu impacto nos resultados econômicos do país, fazem do agronegócio empresarial um modelo mais polêmico. “Esse agro, a maneira predatória com que ele atua, representa morte, pois é nocivo à natureza e à sociedade, o que faz dele um grande problema. Contudo, é preciso dizer que ele tem uma importância econômica para o país, que vem se desindustrializando e se tornando um país vendedor de commodities”, considera.
Dentro do mercado financeiro, commodities são produtos de origem mineral ou agropecuária utilizados como matéria-prima, produzidas em larga escala e vendidas para o comércio exterior. As commodities são negociadas nas bolsas de valores e influenciadas por fatores políticos e econômicos e eventos climáticos. Aqui no Brasil, produtos como soja, arroz, petróleo, café e trigo, são exemplos de commodities. Segundo dados da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), elas representam 6,5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.
“É comum ouvir na TV que ‘agro é pop, é tech’, mas esse agro não gera alimentos, gera commodities. Ou seja, gera produtos primários que serão importados de forma primária. A soja, por exemplo, vai virar tofu no Japão, ganhar valor agregado e [a soja] será vendida de volta pra gente muito mais cara do que foi comprada, pois se transformou em um produto. Os maiores produtores de café solúvel do mundo são a Alemanha e a Itália, e sabe o quanto de café eles produzem? Nada. Mas utilizam a matéria prima para transformar, agregar valor e revender”, critica Simonard.
Agronegócio familiar
Também conhecida como agricultura familiar, este modelo do agronegócio é mais voltado às pequenas propriedades e, para o professor, consegue agregar valor aos seus produtos. “Nessa produção de alimentos, de fato acontece a industrialização deles e daí se agrega valor. Em Canindé de São Francisco, em Sergipe, por exemplo, em um assentamento do Movimento Sem Terra (MST), eles produzem mandioca, a embalam à vácuo e vendem para as escolas. Esse agro é produtivo, embora a geração de alimentos não seja importante para a balança comercial brasileira, é ela que produz os alimentos que consumimos diariamente”, destaca.
De acordo com Simonard, mesmo com as problemáticas que envolvem, o agronegócio e a agricultura familiar são importantes para a economia, mas não para o desenvolvimento do país. “O agro concentra renda, não distribui. Fatura uma grande renda que vai para os poucos donos das grandes propriedades, o que beneficia a poucas famílias; exporta muito, gera dividendos, mas não diminui a pobreza. Já a agricultura familiar, justamente por gerar alimentos, utilizar mão de obra familiar e local, produz e distribui riquezas. O dinheiro circula na mão de muitos e não de poucos”, finaliza.
Asscom | Grupo Tiradentes