A visão que a sociedade tem do professor foi mudando ao longo dos anos. Se antes o educador era visto como uma figura de grande prestígio e detentora de grande conhecimento, nos últimos anos essa visão foi alterada. Antigamente, os filhos eram orientados pelos pais a obedecer e respeitar seus professores. A família confiava no educador, na educação e nos cuidados de seus filhos. Mesmo com a importância dos professores para a formação da sociedade, a classe vem passando por dificuldades que são reflexos desse novo retrato social.
A coordenadora do curso de Serviço Social EaD da Universidade Tiradentes (Unit EaD), Kátia Maria Souza, conta que a visão que a sociedade tem dos professores mudou e que eles não são reconhecidos frequentemente como antes. “Diferente do que acontecia antigamente, hoje nós temos alunos que agridem os professores, que não os respeitam quando levam uma nota baixa, xingam, agridem verbalmente e em alguns extremos, até fisicamente”, comenta.
Essa transformação da visão do educador perpassa o campo social e simbólico, chegando até a violência. Kátia relembra de alguns casos de agressão a professores e frisa o quando o professor é desvalorizado. “Aqui mesmo no estado de Sergipe, já tivemos o caso de um professor que foi baleado no exercício da profissão e ficou paraplegico; um outro caso foi o da diretora, ferida a golpes de caneta. E tantos outros que vemos país afora, que foram feridos, desistiram da profissão após uma violência ou até mesmo que foram mortos. Toda essa violência é reflexo da desvalorização do educador”, frisa.
Em contrapartida, há também educadores que são tidos como heróis e agem como tal. É o caso de Claudete de Oliveira, professora de espanhol em Suzano (SP), que colocou estudantes para dentro de sua sala e conseguiu salvar as vidas deles, durante uma invasão de atiradores a uma escola estadual, em 2019. Já em 2017, numa creche na cidade de Janaúba (MG), a professora Heley de Abreu Silva Batista deu a própria vida para salvar seus alunos de um incêndio criminoso, ao se abraçar com o vigilante que ateou fogo em si próprio.
Falta de reconhecimento
Apesar das noções de respeito à categoria, há uma grande falta de reconhecimento de parte dos pais de alunos. Kátia relata que, diversas vezes, alguns deles vão até as escolas discutir com os professores, mesmo quando não há razões plausíveis para isto. “Inúmeras vezes os próprios pais vão à escola contestar os professores, indagando qual o motivo de seus filhos terem recebido uma nota baixa ou fora repreendido por mau comportamento. Ora, se a nota alta não veio, é porque o conteúdo da prova não foi estudado, se foram repreendidos é porque estavam com atitudes indevidas. Os pais repassam à escola o dever de educar os filhos achando que a instituição escolar deve fazê-lo. Mas o que nós realmente fazemos é repassar conhecimento e dar-lhes instrução”, afirma.
A educadora Tânia Zagury, em seu livro Escola sem Conflito: Parceria com os Pais, diz que “por aqui [Brasil], os pais perderam a habilidade de impor limites a seus filhos. Agora, tentam impor limites à escola, interferindo na atividade dos professores”. Ela se baseou em uma pesquisa de autoria própria, cujo resultado mostrou que 44% dos professores apontam a ausência de limites como causa principal da indisciplina em sala de aula e um quinto dos profissionais responsabiliza a família pelo problema.
Outra questão mencionada pela professora da Unit EaD é a ausência de prestígio de um professor. “Seu valor é mensurado pela sua área de atuação e seus bens. Se mora na zona norte é desvalorizado, tido como sem importância e até mesmo é considerado um mau professor. Se a professora trabalha com crianças, muitos acham que ela não é tão importante quanto uma que trabalha com a graduação. Infelizmente, hoje em dia os professores são avaliados pelo que aparentam ter, não pelo ser ou fazer profissional”, conclui Kátia.
Asscom | Grupo Tiradentes