No ano passado, a empresa varejista Magazine Luiza, uma das prinmcipais do ramo, anunciou seu programa trainee voltado a jovens negros. A iniciativa surgiu após o CEO da companhia, Frederico Trajano, constatar que haviam 53% de pretos e pardos no seu quadro de funcionários, mas apenas 16% ocupavam cargos de liderança. Pensando em aumentar a liderança, a diversidade e representatividade negra no quadro de funcionários, chegou-se à conclusão de que ações afirmativas na contratação de novos funcionários deveriam ser adotadas. Mas o lançamento do programa gerou polêmica e comentários negativos nas redes sociais, até mesmo acusações de “racismo reverso” por parte de pessoas que desaprovam a ação da empresa.
O debate, no entanto, vai além de meras opiniões de internautas. As chamadas ações afirmativas, ou cotas raciais, são ações adotadas através de iniciativa pública ou privada, a fim de combater uma nítida desigualdade social e racial existente no país. São, inclusive, medidas de combate à discriminação, incentivadas pela Organização das Nações Unidas (ONU). As cotas foram oficializadas no Brasil a partir da Lei nº 12.711/12, que garante a reserva mínima de 50% das vagas em universidades e institutos federais para estudantes de baixa renda, negros, pardos e indígenas.
Assim, é possível perceber a importância da adoção de ações afirmativas também no mercado de trabalho. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2018, pretos e pardos representavam 64,2% da população desempregada e outros 66,1% referem-se a profissionais subutilizados em territórios nacionais.
Já de acordo com o Ministério Público do Trabalho (MPT), as ações afirmativas são necessárias e, ao contrário do que muitos internautas têm afirmado [segregação racial, aumento na desigualdade e violação nos direitos trabalhistas], essas ações fomentam a inclusão das pessoas negras no mercado de trabalho e diminuem consideravelmente tais desigualdades, favorecendo a diversidade de seus quadros de funcionários.
Seguindo o exemplo
Depois da polêmica envolvendo a Magazine Luiza, muitas empresas passaram a adotar ações afirmativas para contratar novos funcionários. A Bayer, por exemplo, divulgou o Programa Trainee Liderança Negra, em que 19 vagas voltadas para candidatos negros foram garantidas. Além dela, empresas como AmBev e P&G incluem as cotas raciais trabalhistas em suas contratações. Recentemente, a empresa Ável Investimentos, ligada à empresa XP, se tornou alvo de críticas na web devido a uma foto tirada com uma equipe de funcionários que só havia homens brancos e jovens. Depois da polêmica, a empresa anunciou a adoção de um programa de formação de assessores de investimento exclusivo para pessoas negras.
Ações como essas evidenciam que, cada vez mais, as empresas brasileiras estão buscando implementar a diversidade no seu quadro de funcionários, mas para além disso, mostram que competência e capacidades podem ser encontradas em pessoas pretas, bastando-lhes ter a oportunidade de mostrá-las.
Asscom | Grupo Tiradentes