Ao longo da história, a maioria dos clubes de futebol se manteve como organizações sem fins lucrativos, o que resultou em muitos exemplos de times envolvidos em dívidas, salários atrasados e problemas administrativos que acabam se desdobrando em crises com a torcida e maus resultados dentro de campo. Entre eles, estão Grêmio (RS), Bahia (BA), Sport (PE) e Chapecoense (SC), times que já conquistaram títulos nacionais e internacionais, mas acabaram rebaixados para a Série B do Campeonato Brasileiro de 2022.
Para tentar resolver esse problema histórico, foi criada a Lei para Sociedade Anônima do Futebol (SAF), que visa o incentivo à mudança no modelo das associações sem fins lucrativos para empresas, ou seja, uma lei que regulamenta a alteração de times em empresas. Alguns times, como Botafogo (RJ) e Atlético Mineiro (MG), respectivos campeões brasileiros das séries B e A de 2021, anunciaram que vão aderir à lei e já negociam parcerias com possíveis investidores.
Alguns especialistas, no entanto, apontam algumas desvantagens para os clubes, sobretudo no aumento dos tributos e impostos a serem pagos – e previstos na própria Lei do SAF. Além disso, o Palácio do Planalto vetou um artigo que incentivava o investimento de empresas parceiras nas categorias de base e outros projetos dos clubes. Em entrevista recente à revista Veja, o presidente do Cruzeiro (MG), Sérgio Rodrigues, disse que esse veto “foi feito com uma justificativa equivocada, porque, na realidade, os clubes adotam praticamente um regime de não-pagamento ou isenção de boa parte dos impostos como associação, e ao se tornarem uma SAF, eles passam a pagar”.
Já o economista Cesar Grafietti, especialista em Banking e Gestão & Finanças do Esporte, em artigo publicado no site InfoMoney, também apontou falhas na Lei do SAF, mas destacou pontos positivos que podem incentivar a transformação dos times de futebol em empresas. “Podemos dizer que o fato de ter uma carga tributária próxima à das associações é algo que tende a incentivar a mudança. Ao se transformar em SAF, a associação passa a pagar 5% de impostos sobre as receitas totais (exceto aquelas com negociação de atletas) e isso é pouco superior ao que as associações pagam hoje”, diz o especialista, apontando ainda a possibilidade dos clubes, ou mesmo as associações, pedirem recuperação judicial para reestruturarem suas dívidas.
Exemplos
Na Europa, o modelo clube-empresa foi adotado e é muito bem sucedido. Times como Paris Saint-Germain, Chelsea e Manchester City são geridos e têm grandes investimentos estrangeiros. No futebol brasileiro, já existem clubes que atuam como empresas, como o RB Bragantino (SP), gerenciado pela marca de bebidas Red Bull e recém-classificado para a Copa Libertadores da América; e o Cuiabá (MT), gerenciado pela família Dresch e considerado bem sucedido por não atrasar salários.
Dessa forma, a mudança dos clubes de futebol para empresas pode ser um fator positivo para a reestruturação financeira deles, mas isso só será possível com boa gestão e um rigoroso controle financeiro.
Asscom | Grupo Tiradentes