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Fake news e ataques acirram polarização e rivalidade política

Para professor de Direito da Unit Pernambuco, os contrastes políticos não são ruins, nem mesmo a polarização, desde que ela não vire uma rixa

às 20h34
Deputados brigam durante uma sessão na Assembleia Legislativa de São Paulo: polarização política vem sendo transformada em duelo (Reprodução/TV Alesp)
Deputados brigam durante uma sessão na Assembleia Legislativa de São Paulo: polarização política vem sendo transformada em duelo (Reprodução/TV Alesp)
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Lados opostos na política sempre existiram. Mas o conceito de esquerda e direita enquanto polos opostos nos debates políticos e ideológicos surgiu a partir da Revolução Francesa, em 1789, quando os girondinos [conservadores e partidários do Rei Luiz XVI] ocupavam o lado direito da Assembleia Nacional Constituinte, enquanto que os jacobinos [defensores da Revolução] ocupavam o lado esquerdo. As nomenclaturas políticas dessa posição padrão de reunião são utilizadas até os dias atuais. 

No entanto, observa-se atualmente o quanto a polarização política tem se tornado um fenômeno negativo, ao gerar grandes confusões, rixas entre amigos, brigas entre familiares, ataques à imprensa e agressões verbais e físicas entre os cidadãos. No Brasil, foi possível perceber um movimento mais aberto acentuando tal polarização a partir das manifestações políticas de 2013, que expuseram a insatisfação da população contra a política, a corrupção e problemas nas áreas da saúde e educação. Desde então, o centro como espectro político vem passando por um processo de esvaziamento. 

Segundo o professor Esdras Gusmão de Holanda Peixoto, coordenador do curso de Direito do Centro Universitário Tiradentes (Unit Pernambuco), “os contrastes [políticos] não são ruins, nem mesmo a polarização, quando esta não se torna uma rixa ou um duelo”. Ele completa: “É comum e é bom que haja discordância para que se entre num consenso. O ruim é quando não se tem mais pontos de retorno ou quando se ultrapassa esse ponto”, afirma.

Na prática, é possível notar como inúmeros líderes políticos se utilizam dessa tendência e realizam discursos acirrando os ânimos e o espalhamento de notícias falsas (fake news) como estratégia de deslegitimação e ataques à sua oposição. Tais métodos foram usados, inclusive, como estratégia de fortalecimento político em épocas de eleições, como ocorreu nos Estados Unidos, em 2016, quando Donald Trump e Hillary Clinton disputaram a presidência do país. Nesse período, o site Buzzfeed analisou 40 notícias durante um período de três meses e o resultado foi que 20 notícias falsas tiveram maior alcance do que as notícias veiculadas em jornais com credibilidade

Patologia da desinformação 

O professor Esdras afirma ainda que o advento da radicalização por meio das fake news trouxe um tipo de patologia nova que a política não conhecia e que ganhou uma dimensão extremamente poderosa com as redes sociais. “Insistir na mentira não era uma prática aceita e legitimada na política. Um político ser desmascarado por contar uma mentira, anteriormente era a finalização de sua carreira pública. Hoje em dia, a mentira pode se tornar até mesmo uma plataforma política. A desinformação por meio das fake news se tornou uma patologia social”, explica.

Em 1957, o economista americano Anthony Downs formulou um teorema muito utilizado nas Ciências Políticas para definir o comportamento político das pessoas, de que existe um “eleitor mediano”, e que é preciso conquistá-lo para se vencer uma disputa política. Essa teoria prevaleceu no Brasil após o processo de redemocratização, entre o fim do regime militar, em 1985, e as eleições gerais de 2014. Entretanto, isso não vem ocorrendo nos últimos anos, em que se predomina a polarização associada a sentimentos partidários negativos, uma vez que eleitores de direita ou esquerda rejeitam claramente as legendas contrárias e optam pelas ofensas e ataques agressivos, em vez de buscarem o diálogo sério, responsável e construtivo.

Quando se trata de chegar a um meio termo com relação a tantas disparidades e rixas políticas que permeiam o cenário político atual, o professor Esdras observa que “é necessário dialogar com a sociedade, algo que não tem sido feito”, e que os candidatos que disputam eleições “precisarão ter proposta e viabilidade no espectro público para conseguir se firmar” no cenário político. 

Asscom | Grupo Tiradentes 

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