Ameaça, humilhação, constrangimento, manipulação, isolamento, vigilância constante, insulto, chantagem e o gaslighting [distorção dos fatos para deixar a mulher em dúvida sobre sua própria sanidade] são algumas das manifestações de violência psicológica que milhares de mulheres sofrem em relacionamentos. Uma realidade que, apesar de estar por trás de muitos crimes de violência doméstica e feminicídio, é muito difícil de ser reconhecida.
“A vítima não percebe que está sendo violentada psicologicamente. O reconhecimento desse tipo de violência, que acontece de forma silenciosa, é difícil até mesmo para pessoas que estão ao redor. Podemos atribuir isso, em parte, a questões culturais do patriarcado e ao envolvimento emocional da relação”, argumenta a professora Camille Cavalcanti Wanderley, do curso de Psicologia do Centro Universitário Tiradentes (Unit Alagoas) .
Com a chegada da pandemia do novo coronavírus, que causou o isolamento social para contenção do vírus, houve um aumento de denúncias desse tipo de violência, principalmente no âmbito doméstico e contra mulheres. Em 2020, a Central de Atendimento à Mulher (Disque 180) registrou cerca de 159 mil denúncias de violência doméstica em todo o país. Dessas, 63.244 estão relacionadas a violência psicológica específica contra a mulher.
Danos além da mente
A violência psicológica causa ainda danos muitas vezes difíceis de serem tratados, como depressão, abuso de substâncias psicoativas, problemas gastrointestinais, cefaleias, sofrimento psíquico, e muitos outros. Para Camille, as vítimas de abusos precisam buscar ajuda terapêutica, psiquiátrica e grupos de apoio para sair da situação, podendo, em casos extremos, recorrer à Polícia e à Justiça. “Em casos de pessoas que percebam alguém passando pelo que considera violência, tente conversar e aconselhar a vítima para que esta consiga se desvencilhar e sair da situação de abuso”, incentiva.
De acordo com as informações do site oficial do Instituto Maria da Penha, “qualquer conduta que cause dano emocional e diminuição da autoestima; prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento da mulher; ou vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões” se enquadra nas situações de violência psicológica.
Quem são os abusadores?
Os autores de violência psicológica, em geral, são pessoas com doenças e transtornos de comportamento, como narcisismo e sociopatia. “Elas necessitam controlar e manipular outras a fim de se sentirem bem consigo mesmas; suas vítimas são mantidas em ciclos de abusos nos quais acontecem atos violentos seguidos de bom tratamento, assim a vítima se mantém em um padrão de manipulação confortável para o abusador”, resume a professora, ressaltando que “a maioria das pessoas abusadoras são parceiras amorosas, seja homem ou mulher”.
Camille diz ainda que as vítimas precisam ser acolhidas e apoiadas sem qualquer julgamento de ordem moral ou comportamental. “O acolhimento, o não julgamento e a empatia são cruciais ao ajudar alguém que não consegue sair do ciclo de manipulação e abusos, pois a vítima da violência psicológica está emocionalmente fragilizada, vulnerável, com baixa auto estima, e problemas como dependência emocional, o que dificulta o processo de retirada do ciclo de violência”, orienta ela.
Em casos de violência contra a mulher, é importante que a vítima procure ajuda e que familiares e amigos denunciem, se for preciso, no número 180, à Polícia Militar (190) ou nas Delegacias de Grupos Vulneráveis de sua região.
Asscom | Grupo Tiradentes