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Como a bancada evangélica é influente na política brasileira

Aborto, ideologia de gênero e casamento homoafetivo são pautas contrárias ao conservadorismo evangélico, uma das maiores forças do Congresso

às 20h43
Deputados fazem oração em uma reunião na Câmara Federal: bancada evangélica exerce influência sobretudo em temas conservadores (Saulo Cruz/Agência Câmara)
Deputados fazem oração em uma reunião na Câmara Federal: bancada evangélica exerce influência sobretudo em temas conservadores (Saulo Cruz/Agência Câmara)
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Os bastidores da política nacional se voltam nas próximas semanas para a batalha pela nomeação do ex-ministro da Justiça André Mendonça como novo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). A indicação feita pelo presidente Jair Bolsonaro atende aos movimentos religiosos evangélicos, já que André é um pastor da Igreja Presbiteriana e seria um defensor de posições conservadoras. Segundo o próprio presidente, um nome “terrivelmente evangélico”. Neste sentido, os deputados da chamada bancada evangélica começaram a pressionar o presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, Davi Alcoumbre, a marcar o quanto antes a data da sabatina dos senadores ao candidato. No entanto, outros senadores resistem e se declaram contrários à escolha. 

O embate chama a atenção para o envolvimento dos evangélicos na política, considerado um dos mais fortes e ativos do cenário político atual. Ele começou a se formar em 1960, com o movimento “O Brasil para Cristo”, e o objetivo de inserir pastores e líderes religiosos protestantes no Congresso Nacional. No ano seguinte, foi eleito o primeiro deputado federal. Em 1986, 33 candidatos evangélicos foram eleitos para a Assembleia Nacional Constituinte. Ao longo do tempo, o número cresceu e hoje já representa 38% dos deputados (194) e 10% de senadores (08), sendo bastante influente nas eleições presidenciais de 2018. 

“As Igrejas inicialmente concentraram-se na intenção do lançamento de um deputado por unidade federativa com o slogan ‘Irmão vota em irmão’. Contudo, a formação da Bancada Evangélica só aconteceu na década de 1990, alicerçada pelo plano político da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), que utilizou seus canais para divulgar a ideologia e conclamar a importância dos “paladinos do bem” no cenário político brasileiro”, relata Eunice Aparecida Borsetto, professora de História e tutora do curso de Pedagogia EaD da Universidade Tiradentes (Unit EaD). Ela cita que um passo importante nesse sentido foi dado pela Universal em 1989, quando ela adquiriu o controle da Rede Record de Rádio e Televisão. 

Eunice afirma que a bancada evangélica tem o seu projeto de poder alicerçado em dois pilares. “Um é a Teologia da Prosperidade (TP), em que todos os fiéis têm direito a saúde, bem-estar e boa situação financeira para desfrutarem dos privilégios de serem ‘filhos do Rei’. Outro é a Teologia do Domínio (TD) onde a realidade tanto física quanto espiritual se restringe à luta do cristão contra o diabo, aqui representados pelos santos católicos e guias de religiões de matriz africana”, explica.

Prioridades e bandeiras

Conhecida como “bancada evangélica”, a Frente Parlamentar Evangélica (FPE), também é composta por católicos e espiritas que, juntos, procuram defender a intitulada “agenda moral”, e combatem assuntos relacionados ao casamento homoafetivo, ideologia de gênero e aborto. “São pautas conservadoras como a proibição do aborto, discussões sobre gêneros, prevenção da homofobia nas escolas e retrocesso de direitos de grupos vulneráveis, como travestis e transexuais, impondo, de certo modo, o que cada um deve fazer com seus corpos e como direcionar sua sexualidade”, diz Borsatto.

Ao longo dos anos, os parlamentares ligados ao movimento aprovaram diversas emendas. Em 2017, na Câmara dos Deputados, eles conseguiram fazer passar uma emenda que proíbe o aborto em todas as circunstâncias. Em 2019, apoiou a proposta de Reforma da Previdência, e em 2020, teve 76% de seus integrantes votando a favor do voto impresso, que acabou rejeitado pela maioria da Câmara.  

A professora acredita que a bancada religiosa representa “a junção da extrema-direita reacionária brasileira com projetos de poder de viés ideológico e/ou financeiro das Igrejas Evangélicas, colocando em xeque a democracia brasileira”. Entre as pautas de interesse, também estão as que beneficiam os templos religiosos. Recentemente, deputados evangélicos apresentaram uma emenda ao Refis que dispensaria igrejas de pagar impostos sobre as remessas ao exterior, além do perdão de dívidas passadas e o não pagamento de contribuições e encargos, bem como a concessão de canais de televisão e rádios pelo país.

Influência do eleitor

Atualmente, segundo a Escola Nacional de Ciências Estatísticas, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 36% brasileiros hoje se dizem católicos e 37% se afirmam evangélicos. Ou seja: há dez anos, o número de brasileiros que se declaravam adeptos de alguma denominação evangélica aumentou 61,45%, crescimento que resultou no fortalecimento político das igrejas evangélicas, sobretudo a Universal, e o modo que políticos pentecostais e neopentecostais atuavam. 

A professora Eunice conclui que a escolha dos parlamentares é um reflexo do que pensa a própria sociedade. “Estamos em uma democracia, onde a política é o resultado da vontade da sociedade, que é, infelizmente, manipulada pelos políticos segundo seus próprios interesses. Por isso não há investimentos suficientes na Educação, pois ela é a base da igualdade”, finaliza. 

Asscom | Grupo Tiradentes

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