NASCIMENTO DA POESIA
Em 20 de outubro é comemorado o dia do Poeta. A data faz referência ao Movimento Poético Nacional, que ocorreu em 1976, em São Paulo, na casa do escritor romancista Paulo Menotti Del Picchia.
O dia do poeta homenageia os artistas do campo da escrita que utilizam técnicas criativas e comoventes em suas obras, a intenção é também dar visibilidade às produções da poesia nacional e incentivar a leitura.
Os poetas, em sua maioria, possuem domínio de uma linguagem harmônica e recorrem sempre às facetas do vocabulário para transmissão de sentimentos, sorrisos, choros, paixões, desprezos…
POESIA PE
Em Pernambuco, o acontecimento poético marcante é conhecido como a Geração de 65 — movimento inicialmente chamado de Grupo de Jaboatão em 1964, e um ano depois exportado para a cidade do Recife.
Estes são alguns dos poetas pernambucanos pioneiros na rotina de produção: Alberto da Cunha Melo, José Luiz Melo, Domingos Alexandre, Jaci Bezerra, Tadeu Rocha e César Leal, este último era também jornalista e foi responsável pelas primeiras publicações do Grupo de Jaboatão no Diário de Pernambuco, jornal impresso ainda em circulação no estado.
Ainda hoje existem poetas pernambucanos atuantes, e considera-se grande o surgimento de novos talentos, que fazem com que o ritmo de publicações brilhantes não seja coisa do passado. Grandes nomes da poesia pernambucana a nível nacional como: Mauro Mota, um intelectual poeta que reúne em suas obras saudosismo, temática urbana e bom humor; Carlos Pena Filho, que apesar do seu falecimento precoce aos 31 anos, deixou um volume de produções poéticas marcantes e Gilberto Freyre, autor de um grande legado para artistas da atualidade.
Conheça alguns deles:
Cida Pedrosa é uma poetisa pernambucana, vencedora do Prêmio Jabuti de literatura 2020 com a obra “Solo Para Vialejo”. A poetisa aborda temas voltados para o feminino, romances e anseios urbanos.
Trecho:
PARTO EM BUSCA DE TI
[…]
: a mulher virou homem o trabalho
e a desigualdade por baixo da saia: trouxa
na cabeça camisa cáqui de mangas compridas
chapéu de palha quartinha de cabaça e só
[…]
o sol anestesia a dor e de dor é feito
como deve ser feito de dor o frio do outro campo
Gerusa Leal é recifense, autora do livro “Versilêncios”, obra premiada na Academia Pernambucana de Letras. Utiliza lirismo e sarcasmo em suas produções curtas e de maneira descritiva, que aguçam a imaginação para seus textos.
COMO FAZIAM TODAS AS MANHÃS
A mãe diante do fogão.
O pai à mesa, lendo o jornal.
Ela de pé à porta da cozinha
esperando pelo bom dia que
nunca mais ouviria.
Miró da Muribeca, poeta urbano performático morador do Recife, utiliza questões cotidianas dando voz à população em seus versos, levanta temáticas sociais e também de estética melancólica.
QUATRO HORAS E UM MINUTO
Quatro horas
Quatro ônibus levando vinte e quatro pessoas
Tristonhas e solitárias
Quatro horas e um minuto
Acendi um cigarro e a cidade pegou fogo.
Cinco horas
Cinco soldados espancando cinco pivetes
Filhos sem pai
E órfãos de pão
Cinco horas e um minuto
Urinei na ponte e inundei a cidade
Seis horas
O Recife reza
E eu voando pra ver Maria
As produções poéticas atuais vêm sendo compostas com visões realistas e também têm aguçado o bairrismo e o amor pela cidade. Em razão disso foi criado no Recife, o Circuito da Poesia. Um movimento promovido pela Prefeitura da cidade e que possibilita encontros a cada esquina, praças e calçadas com os poetas pernambucanos, são 18 estátuas que eternizam na memória da cidade poesias vivas. O responsável pelas obras é o escultor Demétrio Albuquerque, autor também do monumento ‘Tortura Nunca Mais” localizado na Rua da Aurora, bairro do Recife.