Na xilogravura, a madeira é entalhada com a ajuda de um instrumento cortante dando origem a uma figura ou forma que vira um modelo do que se pretende imprimir. A impressão registra as partes elevadas da madeira entalhada, que são os pontos que encostam na tinta. Essa técnica é uma das formas de arte mais populares e difundidas na Região Nordeste. As imagens mais famosas retratam a vida do nordestino e todos os elementos tipicamente regionais, como plantas, cangaceiros, praias, animais e paisagens.
Surgimento
A xilogravura tem origem na China, sendo conhecida desde o século VI. No ocidente, ela existe desde a Idade Média – mas foi só no século XVIII que a técnica finalmente foi trazida ao Brasil pelos portugueses, logo após ela chegar na Europa nessa mesma data. No começo, a impressão de imagens a partir do “carimbo” na madeira facilitou a produção de livros ilustrados, mas após outras invenções mais práticas surgirem, como o uso da fotografia, a xilogravura se tornou única e exclusiva das formas de artesanato e das artes plásticas.
Arte nordestina
Sendo popularizada como marca registrada do Nordeste, a xilogravura é muito famosa e está entrelaçada com a literatura de cordel – folhetos que contém poemas populares e ilustrações. Na região, o cordel reúne todos os aspectos que formam o nordestino: a paisagem, o trabalhador, as dificuldades, as piadas e a linguagem própria. A partir da união dos dois elementos, é certo afirmar que essa arte é tão intrínseca ao povo que um se complementa com o outro.
Entre os brasileiros produtores da técnica – os xilógrafos –, José Costa Leite, José Lourença, Amaro Francisco, J. Borges e Gilvan Samico são os representantes mais famosos, sendo os dois últimos pernambucanos de Bezerros e Recife, respectivamente. J. Borges, de 85 anos, é conhecido mundialmente, com produções em marcas de moda praia, de vestuário feminino, além dos próprios quadros. Patrimônio Vivo de Pernambuco, ele produz esse conteúdo desde os 8 anos de idade. Borges também participou da escrita do cordel, tendo lançado mais de 200 exemplares ao longo da vida. Já foi aos Estados Unidos e Europa ensinar e divulgar suas obras, recebeu do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso o prêmio UNESCO na categoria Ação Educativa/Cultural, já foi tema de reportagem no jornal americano The New York Times e é o mais famoso pernambucano do campo da xilogravura.
O recifense Gilvan Samico também foi um grande artista na área. Gravurista, desenhista, pintor e professor, ele foi um dos grandes expoentes da xilogravura brasileira. Ele se inspirou no expressionismo para compor suas representações, que mostravam os cenários nordestinos e temáticas populares. Suas obras estão expostas até hoje no Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova York e participou de diversas bienais, como a de São Paulo, Rio de Janeiro e Veneza. Até sua morte, em 2013, ele produziu livros, cordéis e gravuras.
Legado
É fato que mesmo com adventos de tecnologia e os diversos conteúdos digitais, a xilogravura continuará existindo e inspirando muitas pessoas, principalmente os nordestinos, já que é na região que a arte se consolidou e criou tantos artistas, admiradores e consumidores. É em uma gravura da paisagem do sertão e em uma representação de um casal dançando na noite de São João que o legado fica claro: é sobre criar identificação e transmitir a estética de geração em geração.