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Por que as palavras são tão estranhas no inglês?

A pronúncia no inglês está longe de ser instintiva, e até quem é nativo confirma: as palavras são bem esquisitas. Saiba mais com as dicas do UNIT Idiomas!

às 18h00
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A pronúncia no inglês está longe de ser instintiva, e até quem é nativo na língua pode confirmar: as palavras em inglês são bem esquisitas. A falta de acento é a primeira coisa que nós brasileiros notamos, mas esse é um problema pequeno quando comparado com os vários sons que a mesma palavra pode ter, as várias letras que produzem o mesmo som e principalmente, as letras que estão ali só para enfeitar, nem são pronunciadas.

Pense em palavras como “doubt” e “debt”, que são pronunciadas como “dout” e “det”. Ou então “lead”, que quando pronunciado de um jeito significa “cobre”, e de outro significa “guiar” ou “liderar”. No inglês existem tantas palavras assim, e que funcionam de forma tão aleatória, que é um problema real para as escolas. Só imagine o trabalho que dá ensinar a grafia de cada palavra individualmente, e você entende o porquê dos concursos de soletração aparecerem tanto nos filmes americanos.

Mas como foi que isso aconteceu? Afinal, no português, nós temos que lidar com algumas letras com mais de um som, e com um punhado de letras mudas, mas tudo é razoavelmente organizado e regrado. Isso porque nossa língua passou por várias reformas que buscavam tirar o excesso e deixar as coisas mais instintivas. O que aconteceu com o inglês foi o inverso: ele começou relativamente consistente e foi reformado até virar a loucura que é hoje.

FORMAÇÃO DAS LÍNGUAS

Primeiramente, vamos entender como uma ortografia nasce. Tudo começa na fala, que deve ser traduzida para a escrita. Parece simples, mas não é tão fácil quando se considera que lá para o ano 1350 a maioria esmagadora da população era analfabeta e quem sabia escrever era bem esnobe sobre isso (mesmo quem não sabia direito o que estava fazendo).

Desde o início da escrita existe uma tradição de escrever mais formalmente do que se fala, e isso afeta tudo desde as palavras até a grafia. Quem populariza e canoniza essas formas de escrever são as elites intelectuais de cada língua (por isso quando Shakespeare inventa uma palavra ele é inovador, e quando você usa a criatividade só está errado mesmo).

Então livros, traduções de Bíblias e jornais eram quem ditava como tudo era escrito. Sem nenhum dicionário por trás para falar que não era bem assim.

COMO ACONTECEU NO INGLÊS

No meio de tudo isso, o inglês até que começou com uma base bacana. Em 1350, ele era uma língua razoavelmente consistente, com regras e padrões gramaticais. Mas esse foi o ápice. Se você quer uma história feliz, pare por aqui. De 1400 para frente a situação só piora.

Foi nessa época que chegaram os escritores da corte inglesa e refizeram algumas palavras usando a ortografia francês. E depois a imprensa foi trazida para a Inglaterra pelas mãos de um William Caxton que, depois de 30 anos longe do inglês, teve ajuda de um bélgico para definir a ortografia de palavras. Ficou ótimo, só parecia outra língua. Para acabar com qualquer consistência que possa ter restado, as casas de impressão desenvolveram “estilos da casa”, ou seja, dicionários separados para cada lugar que imprimia coisas. Além disso, os digitadores eram pagos por linhas escritas, então não é de se surpreender que eles deixassem as palavras mais longas.

O golpe final para a consistência da ortografia do inglês aconteceu em 1539, quando o rei Henrique VIII legalizou a impressão de Bíblias em inglês, e a maioria delas foi impressa fora do país, por pessoas que não falavam inglês. Depois disso, a língua nunca mais foi a mesma. Agradeça a essa época por palavras como “ghost” (fantasma) que foi alterada para se assemelhar a “gheest”, do holândes.

O show de horrores continuou, com outras línguas se enfiando no inglês ao longo dos séculos assim como aconteceu na formação da maioria dos idiomas. Não é anormal que idiomas sofram a influência dos vizinhos, aconteceu com o português também, mas a gente resolveu isso com reformas que uniformizaram as regras. No inglês essas reformas nunca aconteceram. Ou melhor, aconteceram reformas, a diferença é que elas só pioraram a situação ainda mais.

As mais notáveis foram as do século XVI. Nessa época a Europa estava toda trabalhada no classicismo, na admiração pelas culturas greco-romanas e em registrar tudo cientificamente. Até a língua, que ganhou seus livros de gramática. Muitas dessas gramáticas propuseram pequenas mudanças na ortografia das palavras para deixa-las com mais cara de grego e latim. O objetivo deles era que quando alguém perguntasse “Você está escrevendo grego?” a resposta fosse “Parece mesmo, não é?”, e eles conseguiram. Colocaram letras mudas a torto e a direito, muitas vezes fazendo relações erradas com o grego e o latim. Veja algumas das melhores mudanças:

Original Século XVI até hoje
det debt (dívida)
dout doubt (dúvida)
sissors scissors (tesoura)
iland island (ilha)
ake ache (dor)

Se você não sabe como se pronuncia essas palavras, faça um teste simples. Coloque as grafias da segunda coluna no Google Tradutor e aperte no ícone da caixa de som para que ela seja pronunciada em voz alta. O que você vai ouvir são as palavras da primeira coluna.

Apesar da dificuldade que essas escolhas estranhas de grafia causam, ainda existe muita resistência tanto na Inglaterra quanto nos outros países que falam inglês para uma reforma. Várias foram propostas a partir do século XIX, poucas foram aceitas. Enquanto elas não passam, divirta-se aprendendo o alfabeto fonético.

Se você tem interesse em saber mais dicas ou tem vontade de aprender inglês ou espanhol, acesse a página do núcleo de línguas, o Facipe Idiomas, no: pe.unit.br/idiomas/

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