*Do portal Universia
Há um mês atrás, comecei essa coluna com uma pergunta: onde estão as histórias das mulheres empreendedoras? Descobri, ao longo da minha pesquisa para esse mesmo texto, que elas existem sim, aos montes – para se ter noção, em 2014, segundo dados revelados pelo Sebrae a partir da pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM), 52% dos novos empreendedores, ou seja, aqueles com menos de três anos e meio de atividade, eram mulheres – apenas não são contadas. Ainda assim, mesmo com a baixa visibilidade, poucos dias atrás me deparei com um novo dado: não apenas elas querem empreender, como as jovens brasileiras são as mais interessadas nisso.
Segundo uma pesquisa realizada pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) mostrou que, ao comparadas com locais como Nova York, nos Estados Unidos, Londres, na Inglaterra, e Xangai, na China, as jovens brasileiras na faixa etária entre 25 e 35 anos, moradoras de São Paulo ou do Rio de Janeiro são as que mais querem empreender. Colocando em números, 62,6% das nossas jovens têm o objetivo de abrir o próprio negócio nos próximos anos. Um dos principais motivadores? A qualidade de vida. As mulheres brasileiras querem não apenas um trabalho, mas um que lhes permita viver.
Tal dado só reforça o quão é importante dar voz a essas mulheres. Se sem dar a merecida atenção ao trabalho que elas já fazem, temos esse desejo crescente de sermos donas do nosso próprio negócio, imagina se conhecêssemos mais casos de sucesso? Mais uma vez, olha a representatividade mostrando sua importância. Porém, não é apenas uma questão de inspirar. Mulheres empreendendo inserem mais mulheres no mercado de trabalho.
Como eu mencionei na primeira coluna que fiz sobre o tema, apesar da vontade, ainda existem alguns impeditivos para que as mulheres realmente consigam empreender, seja no Brasil, seja em qualquer lugar do mundo. A necessidade de provar que é capaz para só então conseguir suporte ou capital é um deles. Como Taciana Mello do projeto The Girls on the Road explica, Conseguir dinheiro, para a mulher, sempre tem um desafio adicional, há um contexto de ‘será que elas são capazes? E se elas casarem e tiverem filhos será que vão continuar no negócio? ’. Tem um peso adicional além de ser empreendedora, ser mulher”.
Curiosamente, mesmo enfrentando mais obstáculos e tendo sua capacidade questionada, as mulheres que empreendem são mais realizadas do que os homens que fazem o mesmo. A mesma pesquisa da Firjan aponta que, enquanto 43,8% deles se dizem realizados, 48,3% delas afirmam o mesmo. Isso talvez, e digo com base em uma suposição pessoal apenas, seja reflexo justamente das dificuldades enfrentadas não apenas no processo de empreender, mas quando se fala de mulher no mercado como um todo. É comum ter suas habilidades colocadas em dúvida por ser mulher. Seja de forma explícita ou sutil, isso acontece e com muito mais frequência do que gostamos de admitir. Sendo assim, tal sensação de realização ser maior entre elas não soa tão estranha.
É verdade que ainda há muito a ser feito. Apesar da crescente participação das mulheres inclusive em cargos de liderança – segundo uma pesquisa feita em 2016 pela International Business Report (IBT) – Women in Business, a presença feminina em cargos de CEO aumentou de 5% em 2015 para 11% em 2016 – a porcentagem ainda é inexpressiva se comparada com a presença masculina nos mesmos cargos. Na América Latina, por exemplo, apenas 18% das funções de gerenciamento sênior são ocupadas por executivas. No Brasil, esse número é 19%. Ou seja, ainda estamos distantes de um cenário ideal em muitos sentidos.
Apesar dos desafios que ainda existem, é muito bom perceber que as brasileiras estão se interessando por uma área que ainda não se direciona – no sentido de mercado de trabalho – a elas. Isso mostra que é possível esperar por um futuro não tão distante com muito mais jovens empreendedoras em, principalmente, jovens empreendedoras em posições de liderança e empregando mulheres. Pode até ser que ainda não contemos as histórias delas, porém, algo me diz que isso não durará por muito tempo.
*Coluna escrita pela jornalista Sttela Vasco