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Dos barbantes ao mundo digital, a Literatura de Cordel persiste

Textos retratam cenários da região, tradição, amor, histórias de vingança, épicas e personagens, que também passaram a ser retratados no mundo digital e podcast

às 17h27
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Que o Nordeste é rico em cultura, tradição e regionalidade, muita gente sabe. Está na arquitetura, danças, falas, literatura, roupas, etc. São manifestações que acabam passando de geração a geração. Um bom exemplo dessa temática é a literatura de cordel, que ultrapassa o limite de tempo e de quantidade de histórias. São versos com métricas, rimas e sonoridade, impressos em folhetos, podendo ser acompanhados de xilogravuras – imagens que tem o aspecto de carimbo – ou não. O cordel é tão rico e diverso que virou Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, evidenciando a importância do estilo para o meio popular.

O cordel, ou pelo menos a ideia de colocar relatos e histórias do cotidiano em uma folha, surgiu no século XIV, na época do Renascimento, com as tentativas arcaicas de impressão. Portugal também teve o costume, com a venda dos folhetos pendurados em cordas e barbantes em feiras, trazendo a tradição para o Brasil. Quando chegou no país, no século XIX, foi um sucesso só: principalmente na região Nordeste, com versos em forma de cantigas e melodias que, desde sempre, remetem ao cotidiano, lendas, religião e à rotina do sertanejo. 

A produção sofreu preconceito por mostrar uma realidade que muitas pessoas não conheciam, com costumes diferentes. Mas a expansão do tipo textual se fez através do nordestino. Até hoje, toda a produção literária é totalmente do Nordeste, a exemplo de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Bahia. No geral, os textos abordam o próprio Nordeste, paisagens, cotidiano e figuras populares. Existem cordéis sobre amores, histórias de vingança, histórias épicas e até o cordel infantil, que também passaram a ser retratados no mundo digital e até podcast.

Cordel em Pernambuco

Em Pernambuco, a cultura do cordel se mostra muito presente. No Estado, existe a Associação pelo Cordel em Pernambuco (Acordel-PE), criada em março de 2020, que conta com mais de 70 poetas – além de pesquisadores e autores – que incentivam e compartilham a arte na região. Atualmente, a associação realiza reuniões virtuais, com criação de projetos e produções próprias.

Em Caruaru, existe também o Museu do Cordel, inaugurado em 1999, que fica localizado na Feira de Artesanato da cidade. No local, é feita a exposição de cordéis e Olegário Fernandes da Silva, importante cordelista, é homenageado. Diversos cordelistas pernambucanos ficaram famosos e são presentes na cultura até hoje: Olegário descreveu de forma artística a trajetória do homem nordestino nos versos dos cordéis. Seu primeiro texto foi feito em 1956, acervo que hoje conta com mais de 200 histórias. 

Elias A. de Carvalho também foi importante para a arte. Ele escreveu sobre as coisas do Estado e do Brasil. Sua obra mais conhecida é “O ABC do Corpo Humano – pequeno tratado da anatomia humana”. Outro bastante reconhecido é João Ferreira de Lima, que foi o autor do célebre Almanaque de Pernambuco e fez obras como “Proezas de João Grilo” e “Romance de Mariquinha e José de Sousa Leão”.

Rima, sonoridade, métrica

Todos esses autores e o cordel em geral utilizam as características principais da técnica: rima, sonoridade, métrica e as múltiplas descrições do cenário do sertão, de eventos e do cotidiano. Esse estilo da literatura, presente há tanto tempo, ainda é importante, já que evidencia a quantidade de cultura popular que o Brasil tem, além de ter viabilizado oportunidades para tantos artistas – antigos e atuais – que utilizam a visão do dia-a-dia e a transformam em arte. 

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