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Cidades não são planejadas para viver sem carros

Principalmente nas áreas urbanas, as pessoas necessitam de carros e outros veículos motorizados no deslocamento diário

às 21h26
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A modernidade e a  pós-modernidade nos impuseram um ritmo que se torna mais veloz a cada dia que passa, temos a sensação de que tudo é urgente e estamos perdendo tempo de alguma forma. Principalmente quando se trata de deslocamentos e, nessa hora, percebemos o quanto estamos dependentes de máquinas e ferramentas que facilitam a vida em sociedade. O carro é uma delas. Mas, será possível viver sem carros? 

Essa é a proposta do dia 22 de Setembro, o Dia Mundial sem Carro. A data foi escolhida na França, em 1997, motivada por um movimento que incentivava a mobilidade sustentável, e a substituição de veículos poluentes por meios de transporte alternativos. Esse movimento logo ganhou corpo e várias cidades do mundo inclusive no Brasil, com o argumento de que os veículos são responsáveis pelo transporte de apenas 30% da população dos municípios. 

“O nosso corpo está mais do que preparado para se deslocar andando ou usando outros meios de locomoção, como por exemplo de bicicleta, que inclusive é mais saudável e nos permitem levar uma vida mais leve. São também mais democráticos, pois não nos exige nenhum tipo de recurso financeiro quando a gente anda a pé, ou investimento alto no caso da bicicleta”, avalia a arquiteta Lygia Nunes Carvalho, professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Tiradentes (Unit Sergipe) e coordenadora do Núcleo de Projetos, Pesquisa e Extensão de Arquitetura e Urbanismo (Nuppe). 

A questão principal, de acordo com ela, é o ponto de vista urbano, sobre o modo de vida da sociedade contemporânea e utilização dos espaços ocupados. Por essa ótica, ela acredita que a sociedade  não está preparada para viver sem carros, “porque as cidades cresceram de forma bastante espalhada horizontalmente, e não há um planejamento urbano que consiga controlá-lo, sem contar as longas distâncias que precisamos percorrer cotidianamente”. 

Isso se justifica também pelo fato de os veículos terem se tornado mais rápidos e confortáveis do que qualquer outro meio de transporte, elevando o status de quem os possuíam, desde o início de sua montagem em massa, no final do século XIX, pelo americano Henry Ford (1863-1947).

Cidade sem carros 

No Brasil, o município paraense de Afuá, com população estimada em 39,9 mil habitantes, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), praticamente consegue essa proeza e proíbe a circulação de carros, motos e veículos motorizados. Só que isso acontece devido a estrutura da cidade, uma vez que a maioria das casas e ruas ficam suspensas sobre palafitas de madeira, que não permitem o peso e velocidade dos carros, e realiza a maior parte do seu transporte de cargas por meio de embarcações. 

Em toda a cidade, no ano de 2020 existiam apenas 13 veículos, incluindo tratores e ambulância. Além disso, as distâncias percorridas são curtas, de no máximo seis quilômetros e os moradores, incluindo o prefeito da cidade, cumprem suas obrigações em bicicletas ou triciclos. 

Deslocamentos democráticos 

Lygia Carvalho acredita que, apesar da atual estrutura urbana que temos nas cidades, é possível reverter, a longo prazo, a dependência excessiva que temos em relação aos carros e outros veículos motorizados de caráter individual. Ela defende que os deslocamentos nas cidades sejam mais democráticos, principalmente para aqueles que vivem nas áreas mais distantes. 

“As classes mais baixas têm as pessoas que enfrentam maiores dificuldades e sofrem mais com pouca infraestrutura e ausência de serviços, necessitando de grandes deslocamentos. Defendo que a gente pense cada dia mais em cidades para deslocamentos a pé ou, no máximo, de bicicleta. No entanto, para isso, a gente precisa planejá-las para encurtar distâncias, melhorar a qualidade da locomoção, priorizar o pedestre para que a cidade viva numa escala de velocidade menor, não de acordo com os carros, como a gente vem planejando ao longo de muitos anos”, argumenta.  

Asscom | Grupo Tiradentes

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