Com pouco mais de 30 anos de existência, a internet tornou-se uma parte muito presente do cotidiano de mais de 5 bilhões de pessoas ao redor do mundo, segundo dados do relatório “Digital 2023: Global Overview Report”, publicado pelo site Datareportal. A pesquisa também mostra que o Brasil é o país com o segundo maior tempo gasto na internet, com 9h32 (atrás apenas da África do Sul, com 9h38). Apesar de suas utilidades, o uso excessivo de internet, em especial das redes sociais, pode causar dependência tecnológica, o que pode ser considerado uma doença.
De acordo com Tatiany Melo, professora de Psicologia do Centro Universitário Tiradentes (Unit-PE), localizado na Imbiribeira, ao lado do Geraldão, as redes sociais têm um papel fundamental no desenvolvimento de dependência. “O Instagram, que é mais instantâneo, tem aquela coisa da foto e da fala curta, ou seja, aquilo vai mudando a química do cérebro. Quando a gente pensa sobre isso, vemos que a nossa sociedade busca prazeres cada vez mais rápidos e mais imediatos”, explica. As mídias sociais mantêm os usuários presos, devido ao rápido fluxo de informações, que fazem o cérebro querer mais, além de outros conteúdos rápidos, que criam uma promessa de prazer e bem-estar constantes.
Em momentos de sofrimento, ou até mesmo de tédio, é comum buscar alguma forma de prazer ou entretenimento, e as redes sociais têm se mostrado uma maneira fácil, prática e rápida de conseguir isso. Inicialmente, pode ser apenas um passatempo que de fato traz prazer, mas, aos poucos, o cérebro vai se acostumando e passa a exigir maiores níveis de bem-estar, o que acaba se tornando um ciclo. Esse ciclo é considerado uma dependência quando o indivíduo não consegue mais controlar a vontade de olhar o celular, e então o hábito atrapalha as atividades diárias, causando sofrimento ou prejudicando a qualidade de vida.
Um estudo de 2018 publicado na revista acadêmica JAMA sugere que o uso excessivo de internet pode causar déficit de atenção e hiperatividade em jovens, devido à dopamina, hormônio do prazer que apresenta deficiência em portadores de TDAH. O abuso de redes sociais também pode causar problemas como ansiedade e depressão, assim como prejudicar a socialização, já que conversar através de uma tela não é a mesma coisa do que cara a cara. Problemas de autoestima também podem ser associados a longos períodos nas mídias sociais. Isso porque os usuários tendem a publicar os melhores momentos de suas vidas e suas melhores fotos, abrindo espaço para comparações. E quanto mais jovem, maior o risco: a Organização Mundial da Saúde recomenda que crianças menores de 2 anos de idade não tenham nenhum contato com telas; entre os 2 e os 8 anos, o limite máximo é de uma hora diária.
Para evitar o desenvolvimento da dependência de aparelhos tecnológicos, a psicóloga Tatiany Melo explica que é importante entender o porquê daquele hábito repetitivo. “Uma das coisas que se pode fazer é analisar quais são as minhas fugas. Quais são as coisas que eu tenho tendência a exagerar? Isso me atrapalha no meu trabalho?”, detalha. A professora também aponta a psicoterapia como uma maneira de evitar a dependência.