De acordo com o último mapeamento da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre a depressão, 11 milhões de brasileiros sofrem com a doença, o que corresponde a quase 6% da população do país. Os números mostram, inclusive, que o Brasil tem a maior população depressiva da América Latina. A doença, que é a 4ª maior causadora de ônus do mundo, segundo a OMS, é caracterizada por um estado de espírito altamente negativo. São sintomas clássicos a sensação de tristeza ou de vazio, autodesvalorização, sentimento de culpa. Também é comum que o paciente depressivo se sinta um peso para amigos e familiares e tenha constantes pensamentos de morte, podendo chegar até mesmo ao suicídio. No corpo, é possível sentir cansaço, sonolência, pensamentos lentos, falta de concentração e de apetite.
Dentre as causas da depressão, está o fator da bioquímica cerebral. Estudos mostram que, ao desenvolver a doença, o cérebro humano apresenta deficiência de alguns neurotransmissores, como serotonina, dopamina (conhecidos como hormônios do prazer) e noradrenalina. Esses hormônios estão envolvidos na regulação de atividades motoras, do apetite, do sono e do humor. A genética também influencia no surgimento da depressão. O histórico familiar pode ser um fator de risco para um quadro depressivo, mas estima-se que fatores genéticos representem 40% da suscetibilidade para a doença.
Depressão não se limita a estado emocional
De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), a depressão é o resultado de interações complexas entre fatores sociais, psicológicos e biológicos. Ou seja, não apenas a química do cérebro ou a genética podem desencadear um quadro depressivo, mas também o ambiente em que o indivíduo está inserido e os próprios acontecimentos da sua vida. Pessoas que passaram por difíceis situações na vida, como luto, desemprego ou qualquer outro trauma, são mais propensas a desenvolverem depressão. O mesmo vale para quem se encontra em situações precárias de vida, como pessoas em situação de rua, por exemplo. Especialistas indicam que quem vive em contextos de pobreza, com falta de moradia digna, de saneamento básico, expostas à violência, dentre outros fatores, também entram em depressão com mais facilidade.
A depressão, ao contrário do que muitos pensam, muitas vezes não se limita apenas ao estado emocional, do indivíduo, podendo influenciar a saúde do corpo. Devido ao desequilíbrios dos neurotransmissores no cérebro, o depressivo acaba não tendo ânimo para executar tarefas diárias, inclusive as de autocuidado, como praticar exercícios e manter uma alimentação equilibrada. Além disso, a condição pode causar problemas com o sono (insônia ou sonolência), prejudicando o descanso. Todos esses fatores, assim como o aumento do cortisol (hormônio do estresse) causado pela depressão, contribuem para uma queda na imunidade, o que abre portas para outras doenças ou infecções, podendo afetar a saúde do corpo como um todo.
Tatiany Melo, professora de Psicologia do Centro Universitário Tiradentes (Unit-PE) — localizado na Imbiribeira, ao lado do Geraldão — destaca ainda que o sofrimento emocional pode levar, inclusive, ao desenvolvimento de dependências químicas. “Tem alguns momentos da nossa vida em que estamos mais vulneráveis, porque o vício é uma busca de prazer em um momento que você não está bem. Aquele prazer, que inicialmente era uma coisa momentânea, passa a ser algo que vai tomar uma grande parte da minha vida e vai inviabilizar a minha qualidade de vida e a minha forma de fazer as coisas”, alerta.
Apesar de não haver uma cura específica, é possível tratar a depressão até que o paciente volte a um quadro saudável. A principal maneira de tratamento é a psicoterapia, pois a depressão não está apenas nas disfunções hormonais, mas também na maneira como o indivíduo vê o mundo, a vida e a si mesmo, e através de atendimento psicológico isso pode ser resolvido. Em muitos casos, no entanto, é necessário recorrer a um médico psiquiatra, para que seja receitado algum medicamento para tratar justamente do desequilíbrio dos neurotransmissores. Alimentação de qualidade, formas de lazer e exercícios físicos também podem ajudar no tratamento, já que contribuem para a produção de hormônios do bem-estar.