Recife possui 12 bairros vulneráveis às inundações agravadas pelas marés. Entre eles, Boa Viagem, Afogados, IPSEP e Santo Amaro. Com as mudanças climáticas, esse número passa para 28, incluindo os bairros do Pina, Recife Antigo, Santo Antônio, Campo Grande, Madalena, Cabanga e Ilha do Retiro. Na lista dos mais comprometidos está a Ilha do Leite, em que se prevê quase a totalidade das ruas inundadas por fenômenos de maré alta.
A estimativa integra o relatório final de um mapeamento hidrológico, realizado durante dez meses, no Recife, para identificar o comportamento e impacto das marés, inicialmente na região de Setúbal. O estudo foi realizado por dois engenheiros pernambucanos, Alexson Caetano e Gastão Cerquinha, que desenvolveram uma metodologia inovadora chamada Modelo de Gestão em Zonas Protetivas (Protege).
Por meio dele, é possível monitorar regiões mais vulneráveis e propor soluções que ajudem a reduzir o impacto das marés em cidades costeiras. “Diversas áreas na cidade de Recife estão sujeitas a inundações provocadas pela maré, mesmo em dias sem chuva. Para o Carnaval, por exemplo, estão previstos picos de maré que chegarão a 2,70 metros e, caso ocorram chuvas simultâneas, a cidade passará por diversos transtornos”, adiantou o engenheiro Gastão Cerquinha, um dos idealizadores do projeto. Segundo ele, o nível de água pode alcançar o pico máximo de 2,70 metros, medido pela Diretoria de Hidrografia e Navegação, que integra a Marinha do Brasil.
Áreas costeiras
O Protege foi aperfeiçoado em Boston (EUA) pelos dois engenheiros, que conheceram soluções aplicadas em áreas costeiras. Eles viajaram por meio de uma bolsa-auxílio para executar o projeto. A iniciativa é do Tiradentes Institute, do Grupo Tiradentes, via Centro Universitário Tiradentes (Unit-PE), em parceria com a Prefeitura do Recife. O modelo foi selecionado ano passado em um desafio, lançado a universitários e recém-formados, residentes no Recife, com base em inovação, tecnologia e impacto social.
No projeto, Alexson e Gastão incluíram boas práticas difundidas internacionalmente e baseadas na natureza, com a utilização de materiais como pedra, areia e vegetação nativa. “São iniciativas que podem ajudar no impacto da maré e ainda permitem o desenvolvimento da flora e fauna, sem impermeabilizar o solo, favorecendo, assim, também o microclima urbano”, apontou Gastão. Segundo ele, nem sempre uma área mais próxima ao litoral terá maior influência e impactos da maré. E em cada local da cidade pode haver um reflexo diferente e necessitar de uma solução específica. A definição da medida a ser adotada pela gestão pública vai depender de uma série de variáveis.
Entrega
Um relatório final do Protege será entregue pela Unit-PE ao prefeito do Recife, João Campos. A ideia é inspirar a gestão municipal em relação aos cuidados com relação aos impactos das marés na cidade. No material, constam as etapas de desenvolvimento, métodos aplicados, simulações e soluções adotadas. Além de Setúbal, Gastão adiantou que a metodologia também pode ser aplicada a outros bairros como Afogados e Ipsep.
Para fazer este estudo, os dois engenheiros utilizaram a topografia aérea, levantamento topográfico da Emlurb, relevo de Pernambuco, levantamento em campo para monitoramento sistemático e softwares de modelagem hidrodinâmica. Também realizaram visitas técnicas e apresentações na cidade norte-americana referência em inovação.