O racismo é um movimento que acompanha a sociedade desde seu início. Fazer sua relação com a estrutura de países e da população não é errado – afinal, existem dados históricos e irreparáveis para mostrar que foram sendo estabelecidas posições menos e mais privilegiadas de acordo com a característica racial de cada pessoa. Por isso, o debate é importante e deve ser tratado com atenção. Thiago Modenesi, cientista político e professor da Unit-PE, explica a questão histórica e social da ação.
“Esse é um debate muito importante, chamando atenção para fatores recentes. Um foi do Moïse, imigrante congolês assassinado no Rio de Janeiro e o outro do Durval Teófilo Filho, que foi morto ao chegar em casa do trabalho. Os dois eram negros e trabalhadores”, afirmou o professor.
Definição – Racismo é o ato de discriminar uma pessoa por causa de sua raça, que é o conjunto de características externas e físicas, por exemplo, o formato dos olhos, o tipo de cabelo e a cor da pele de cada um. Quando se fala da ação no Brasil, os dados mostram as perspectivas: de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública em 2020, o número de casos de injúria racial foi de 10.291. Por outro lado, o número de casos absolutos de racismo não passou de 3 mil, o que mostra uma perspectiva de subnotificação e esquecimento.
Dados – O racismo é tão presente que os dados mostram casos e números alarmantes. Trabalhadores negros são as maiores vítimas de homicídios no Brasil. Em 2017, 75,5% das pessoas assassinadas no país eram pretas, o equivalente a 49.524 vítimas. A taxa de homicídios dessa população no Brasil foi de 34 para 37,8 por 100 mil habitantes entre 2008 e 2018, representando aumento de 11,5% no período, de acordo com o Atlas da Violência 2020. Além disso, entre as vítimas de violência letal no Brasil, 74,4% são negras. A cada 23 minutos morre uma pessoa negra – isso significa que são 23.100 vítimas por ano, cerca de 63 por dia.
Racismo estrutural – O termo “racismo estrutural” quer dizer que a ação está presente na estrutura da sociedade, ou seja, é algo que está enraizado. De fato, ele existe desde a colonização – os europeus, quando chegaram no país, estabeleceram a supremacia branca, catequizando os índios e menosprezando ações como cultura, aparência e rotina. Depois, no Brasil Imperial, por causa da escravidão, os negros foram vistos como inferiores e menos dignos de atenção, direitos e políticas públicas.
Ações como essas mostram que o que aconteceu lá atrás ainda perdura até hoje, através da herança racista. “O processo de ocupação feita pelos colonizadores foi de dizimar os índios e arrastar à força milhões de negros da África para o trabalho escravo”, exemplificou Thiago.
Mesmo com a abolição da escravatura e a elaboração da Constituição Brasileira de 1988, que reconheceu o povo negro e seus direitos, o racismo ainda perdura e se difunde no país. “Nós ainda temos amarras estruturais no atual sistema econômico, que não valoriza o trabalho e despreza o valor de milhões de trabalhadores que constroem o Brasil”, salientou o cientista político. De acordo com o IBGE, a diferença salarial entre negros e não negros chega a até 73%, e a participação do grupo no quadro executivo e de gerência é, de acordo com pesquisa do Instituo Ethos, de 4,7% e 6,3%, respectivamente.
Já em cargos politicos, os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostra: são 29,11% dos prefeitos autodeclarados negros e 70,29% dos candidatos brancos. E para vereador, 42,07% negros e 57,13% brancos, demonstrando a desiguldade.
Combate – Para combater o racismo estrutural, várias ações – coletivas e individuais – são necessárias: conscientizar a população sobre igualdade e a diversidade, promover o acesso da população negra a cargos políticos, cumprir leis que protegem os negros e suas demandas na sociedade e, tratar da questão racial como algo essencial nos dias atuais.
“O Brasil acabou construindo essa desigualdade desde a sua descoberta. Tratar desse tema é algo profundamente necessário e atual para podermos construir as condições políticas, sociais e econômicas para combater o racismo estrutural e superá-lo. E isso está presente nas pequenas piadas, nos ambientes de trabalho e na violência”, ponderou Thiago.