Não é incomum ler e ouvir fake news nas redes sociais diariamente, seja uma postagem em redes sociais ou um áudio mentiroso por aplicativos de mensagens. Os boatos circulam pela internet em grande velocidade, disseminando o vírus da desinformação. Não por acaso, reconhecendo o potencial danoso dessa problemática, as agências de fact-checking surgiram na internet também para combater, quase que na mesma velocidade, a disseminação das fake news.
Quem não conhece o famoso meme em que uma criança de cinco anos do interior de São Paulo tenta enganar a mãe com um bilhete falso. No papel, ele fingia ser sua professora informando que não haveria aula no dia seguinte e ao final escrevia, com sua letra infantil e num português ainda de aprendizado: “É verdade esse bilete” (sic).
Esse meme virou brincadeira, mas leva a pensar que assim como o autor foi uma criança, pode ser qualquer adulto “brincando” de mentir por conta de interesses próprios. Isso aconteceu com mais de 4,5 milhões de notícias falsas espalhadas apenas entre julho e setembro, segundo relatório da empresa de cibersegurança PSafe. Desse total, 2,2 milhões eram sobre política, outras tantas eram sobre temas de saúde, como vacinas, e promessas de dinheiro fácil.
O filme O Dilema das Redes, disponível na plataforma de streaming Netflix, mostra que formuladores e gestores de plataformas de redes sociais usam inteligência artificial para obterem lucros com seus negócios. Ou seja, descobriram que publicidade vinculada a notícias falsas geram seis vezes mais visualizações que notícias verdadeiras.
O dicionário da Oxford corrobora com o que mostrado na película e apresenta uma crise de valor conhecida como Pós-Verdade, em que o cenário virtual abre espaço para notícias falsas como fontes de renda. No entanto, as pessoas compartilham manchetes e informações que são claramente falsas, porque querem acreditar que aquilo é verdadeiro, ou seja, as crenças pessoais são consideradas mais importantes do que a realidade dos fatos. Em meio ao caos, ver uma “notícia” que seja, de certa forma, reasseguradora de suas crenças, dilemas, preconceitos e valores, dá uma sensação de pertencimento e certeza de que tudo o que se crê está correto. E assim começa a disseminação.
Com a pandemia do novo coronavirus e o rápido espalhamento de fake news sobre a doença na internet, as big techs, grandes empresas de tecnologia, uniram forças ao emitir uma nota oficial anunciando reforços para combate aos boatos postados nas redes sociais como Facebook, Twitter e Instagram.
Estratégias
Uma das estratégias adotadas para combater teorias da conspiração e notícias falsas nas redes sociais foi a adoção de uma mensagem automática que apareceria por cima da fakenews, como uma espécie de fact checking, a fim de anunciar que aquilo seria falso a quem estivesse lendo, além de um link que redireciona o leitor a informações verídicas sobre o assunto. Tal estratégia surtiu bom efeito e é utilizada até o presente momento por empresas como Meta, detentora do Facebook, Instagram e Whatsapp.
Já o Twitter revisa suas regras de comunidade constantemente e prioriza perfis verificados e especialistas sobre o assunto, além do monitoramento constante dos tweets, com a exclusão de postagens e de perfis robôs disseminadores de notícias falsas. Atualmente as maiores big techs como YouTube e Google banem conteúdos falsos de suas plataformas e redirecionam também a sites que contenham informações verídicas sobre os assuntos abordados.
Ainda que as big techs estejam atuando diretamente no combate às fake news, intervenções da Justiça e de outras autoridades continuam sendo necessárias. Em setembro deste ano, o corregedor-geral do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Felipe Salomão, convocou uma reunião com as big techs para a desmonetização de canais que produzem e espalham fake news pela internet.
O objetivo é desbancar principalmente páginas de apoiadores políticos que disseminam notícias falsas com o intuito direto de desinformar a população, estratégia muito utilizada em campanhas eleitorais para tentar manipular os resultados. “Essa prática é extremamente nociva ao Estado Democrático de Direito e, em larga escala, tem o potencial de comprometer a legitimidade das eleições, realizadas no Brasil desde 1996 em formato eletrônico com a mais absoluta segurança”, afirma Salomão.
Ficou decidido que as plataformas digitais YouTube, Twitchtv, Twitter, Instagram e Facebook suspendam o repasse de valores oriundos de monetização às pessoas e às páginas indicadas em Inquérito Administrativo que apura as campanhas de desinformação promovidas por apoiadores. Foi ordenado ainda que as plataformas de redes sociais promovam o caminho inverso das postagens, visando identificar a origem das publicações.
Asscom | Grupo Tiradentes
com informações do Whow! e do TSE