O futebol é o esporte mais popular do mundo, principalmente no Brasil. No entanto, há alguns anos o preço cobrado pelos ingressos já não é tão popular, excluindo o grande público. O problema ficou evidenciado com a venda dos ingressos para a final da Copa Libertadores da América, entre Flamengo e Palmeiras, que será disputada no dia 27 de novembro, em Montevidéu, no Uruguai. Nos setores mais populares do Estádio Centenário, o preço do ingresso é de US$ 200, equivalente a mais de R$ 1 mil. Um valor inviável para muitas pessoas, já que o salário mínimo no Brasil é de R$ 1.100,00. Nos outros setores, os preços chegam a até US$ 650.
“É inadmissível que um torneio da América do Sul, com países de poder aquisitivo baixo, países de terceiro mundo, onde a fome impera, tenha esse custo para o torcedor”, ataca a Mancha Verde, principal torcida organizada palmeirense. Do outro lado, a flamenguista Raça Rubro-Negra acusou a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), organizadora do torneio, de ser “completamente alheia a realidade, ignorando a crise social e econômica e os reflexos ainda devastadores de uma pandemia global”, além de “jogar na lata do lixo o sonho de milhares de torcedores”.
Até mesmo alguns jogadores criticaram os valores dos preços dos ingressos, o que não foi feito pelos dirigentes do Flamengo, nem pelos do Palmeiras. Cada clube tem 9.375 ingressos e prevê um faturamento entre R$ 7,5 e 10 milhões, além do valor dos prêmios de vice e de campeão da Libertadores.
O problema é reflexo de um paradigma que vem tomando conta dos esportes populares em todo o mundo. Após a globalização dos esportes americanos, como o basquete, o beisebol e o futebol americano (jogado com a bola oval), houve a chegada de um modelo novo de experiência de jogo, que introduziu elementos como shows e a visualização do ambiente do estádio em telas de LED. Isso levou um mercado de turismo maior para o esporte americano, já que não seria necessário conhecer o futebol e a equipe desportiva para apreciar o evento.
Aqui no Brasil, alguns estádios transformados em arena já iniciam estas mesmas práticas, mostrando torcedores e levando outras atrações para o espaço dos jogos. A Copa do Mundo de 2014 no Brasil incluiu o futebol nacional no processo de arenização dos estádios, superestimando alguns, como a Arena da Baixada (Curitiba/PR), e depreciando outros, como o Morumbi (São Paulo/SP), que é um dos estádios mais populares do país, mas atualmente tem um dos ingressos mais baratos, por não oferecer a experiência de arena.
Atualmente existem 14 arenas no Brasil – as doze da Copa 2014 e mais as do Grêmio (em Porto Alegre/RS) e do Palmeiras (em São Paulo). A mudança atendeu também ao “Padrão Fifa”, com normas e encargos que definem o que é uma arena, com questões como assentos individuais devidamente marcados em todos os setores, câmeras de vigilância espalhadas estrategicamente pelo espaço, estacionamento com capacidade para milhares de carros, entre outras medidas. Mas com o passar dos anos, a elitização “padrão Fifa” dos estádios aumentou e as medidas de segurança têm reduzido a capacidade, o que gera mais conforto para os participantes presentes e custos mais elevados. E isso foi se revertendo nos preços dos ingressos cobrados para as partidas.
O Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas do Rio de Janeiro lançou um dossiê, já em sua quarta versão, sobre a violação ao direito do esporte e à cidade. Ele afirma que o efeito da explosão dos valores dos ingressos é um traço comum em todos os estádios construídos ou reformados para a Copa do Mundo, e que, “em curto prazo, já é visível a exclusão da maioria dos trabalhadores, que historicamente frequentava o estádio, pois não consegue mais pagar para assistir aos jogos”.
Asscom | Grupo Tiradentes
com informações do ge.com