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Pobreza menstrual atinge boa parte das meninas e mulheres

Veto presidencial ao Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual, que prevê a distribuição gratuita de absorventes, está prestes a ser apreciado no Senado

às 14h14
Um grande contingente de meninas estudantes não têm condições de comprar absorventes e, por isso, acabam faltando à escola durante o ciclo menstrual (Elias Costa/Unicef)
Um grande contingente de meninas estudantes não têm condições de comprar absorventes e, por isso, acabam faltando à escola durante o ciclo menstrual (Elias Costa/Unicef)
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A menstruação faz parte do processo biológico do ciclo reprodutivo feminino, que começa entre 9 e 16 anos, se encerrando por volta dos 50, no climatério, período também conhecido como menopausa. Todavia, nem todas as pessoas que menstruam têm acesso aos produtos de higiene, infraestrutura apropriada e conhecimento sobre a menstruação. A ausência desses recursos recebe o nome de pobreza menstrual e é considerado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) como um fenômeno gerado pela desigualdade racial, social e de renda.

Uma tentativa de atacar o problema no Brasil foi a criação do Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual, proposto através de uma lei aprovada no mês passado pelo Congresso Nacional. Essa lei chamou a atenção por ter dois artigos vetados pelo presidente Jair Bolsonaro. Os absorventes seriam incluídos nas cestas básicas e distribuídos a meninas e mulheres de baixa renda, estudantes de escola pública, mulheres em situação de rua ou em prisões.

Os vetos voltaram ao Senado Federal, que poderá pautá-los para votação nos próximos dias. A maioria dos parlamentares da casa já indicou que pode derrubá-los, fazendo valer o texto originalmente aprovado. A decisão do presidente causou um intenso debate e foi criticada por muitos especialistas, por representar um recuo em iniciativas que buscam enfrentar o problema da pobreza menstrual no Brasil.

“Infelizmente as políticas públicas, que pareciam apresentar um certo avanço no sentido de fornecer esses absorventes gratuitamente, teve um retrocesso e isso é muito triste. É um assunto delicado, mas muito necessário. Esperamos que esses vetos sejam derrubados e possamos avançar em relação às políticas públicas para diminuir a pobreza menstrual”, avalia a professora Giedra Marinho Cavalcanti, que ministra disciplinas de Psicologia nas Faculdades Tiradentes (Fits) e no Centro Universitário Tiradentes (Unit Pernambuco).

Saúde pública

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o acesso a recursos de higiene menstrual está diretamente ligado a questões de saúde pública e de direitos humanos. O movimento Girl Up elaborou o relatório Livre pra Menstruar, com dados nacionais que apontam que 30% de mulheres e meninas menstruam (o relatório levou em consideração apenas o gênero biológico). Desse total, 17% das meninas com até 19 anos não têm acesso à rede geral de distribuição de água e 200 mil estudantes estão matriculadas em escolas com banheiros inadequados para o uso. Estima-se ainda que, durante a vida menstrual, uma pessoa pode gastar entre R$ 3 mil e R$ 8 mil com absorventes.

A pesquisa também traz dados de outros países, como, por exemplo, o Reino Unido em que 48% das meninas sentem vergonha quando estão menstruadas; na Colômbia, 45% desconhecem a origem do sangue e 20% o consideram sujo; Na Índia. 71% desconhece a menstruação até a menarca (primeira menstruação).

Para a professora, a pobreza menstrual causa impactos na vida de pessoas que menstruam em todo o mundo. “Os impactos vão desde a frequência escolar até as idas em locais públicos, porque elas se sentem incomodadas e com vergonha. Por conta disso, muitas vezes utilizam materiais inadequados para conter o sangramento menstrual durante o período e assim conseguir frequentar os lugares”, comenta.

De acordo com Giedra, muitas pessoas jovens que não têm acesso aos recursos como absorvente, coletor ou calcinha menstrual, acabam recorrendo a outros métodos para conter o fluxo. “Colocam papel, tecido, várias calcinhas… já escutei histórias muito tristes de jovens que colocam até miolo de pão e algodão, para tentar absorver o ciclo menstrual, correndo risco de adquirir uma infecção”, conta ela, alertando que as meninas e mulheres nesta condição também ficam bastante afetadas emocionalmente. 

“Além do constrangimento e da vergonha, que eu já mencionei, muitas dessas pessoas têm uma diminuição da autoestima, se sentem inferiores a outros adolescentes por não conseguirem frequentar os mesmos locais quando estão menstruadas. Esse é um impacto de exclusão escolar, por não frequentar escolas, mas também de vulnerabilidade social, pois se sentem numa noção de ‘menos valia’, por não terem condições de comprar absorventes. Essa situação as coloca à margem da sociedade”, frisa a professora da Fits.

Documentário 

O filme indiano Absorvendo o Tabu, da Netflix (2018), foi premiado em 2019 com um Oscar de melhor documentário em curta-metragem, por levar às telas um pouco da realidade da pobreza menstrual. O curta mostra a vida de mulheres e meninas que vivem em um vilarejo rural na Índia e sofrem com doenças por usarem panos no lugar de absorventes durante a menstruação. 

Vivendo em uma condição sanitária precária, que dificulta a higienização desses materiais, as moradoras entram em contato com diversas bactérias nocivas, que provocam doenças. Elas aprendem a fabricar absorventes e até a vendê-los a preços acessíveis, para que outras mulheres também utilizem o item de higiene. 

Asscom | Grupo Tiradentes

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