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Problemas em países estimulam “turismo da vacina”

Pessoas têm se organizado em pacotes para tomar a vacina contra o coronavírus em países com a imunização mais avançada; prática traz dilemas éticos e riscos à saúde

às 21h40
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O ritmo alcançado por alguns países em suas campanhas de vacinação contra o coronavírus tem estimulado uma prática questionada e até condenada por muitos: o chamado “turismo da vacina”. Grupos de pessoas em países com vacinação menos avançada, ou que estão fora dos grupos prioritários, têm viajado, em família ou em grupo, para tomar a dose dos imunizantes em outros onde mais de 50% da população está imunizada, como Estados Unidos, Israel, Panamá, Rússia, San Marino e Emirados Árabes – e em breve, Ilhas Maldivas e Cuba também prometem vacinar estrangeiros.

Estas viagens também acabam estimuladas através de agências e sites especializados que oferecem pacotes de viagens para vacinação a interessados, ao preço de cerca de R$ 25 mil por pessoa e com regras variando por país e por estado (no caso dos Estados Unidos). Alguns locais exigem que o viajante tenha visto de turista ou parentes que residam na região. E que ele fique 15 dias de quarentena em algum país próximo. 

Tal desigualdade no andamento da imunização se deve principalmente à forma como cada país organizou a sua campanha, com vantagens para os que se conseguiram reservar doses antes mesmo da autorização das agências reguladoras. “A maioria dos países europeus começaram a vacinar em dezembro e fizeram processos de aquisições anteriormente ao Brasil. Por isso, eles estão mais avançados. A questão está no processo de organização de cada país”, define a enfermeira sanitarista Ana Catarina de Melo Araújo, professora do curso de Medicina da Faculdade Tiradentes (Fits), em Jaboatão dos Guararapes (PE)

O ritmo de produção das vacinas no Brasil também é considerado lento, com dependências de ingredientes importados. As primeiras doses da Coronavac, a primeira vacina autorizada no Brasil, começaram a ser aplicadas só no final de janeiro. Desde então, apenas o equivalente a 20% da população tomou ao menos a primeira dose dos imunizantes – além da Coronavac, estão liberadas no Brasil a Astrazeneca e a Pfizer/BioNTech. De acordo com o Plano Nacional de Imunização, definido pelo Ministério da Saúde, a prioridade da vacinação é para as pessoas que integram grupos prioritários, como idosos, portadores de comorbidades e profissionais das áreas de saúde, educação e segurança pública. 

Dilema ético e risco à saúde

Para Ana Catarina, o “turismo da vacina” acaba estimulado pela vontade das pessoas em tomar a vacina antes dos grupos prioritários. E isso também desperta uma discussão moral e ética. “Começa a ser questionável, porque as pessoas acabam se deslocando para passar na frente dos outros e aí são favorecidas as pessoas que têm mais acesso, que tem mais recurso financeiro e não deixam a vacina de forma equitativa”, avaliou, referindo-se ainda à quebra do princípio da igualdade. “A gente tem que lutar para que a vacina esteja no acesso de todos e não favorecer a situações em que as pessoas que têm mais conhecimento, tem mais recursos financeiros saiam na frente das outras”, acrescentou

Esse debate é levantado pela prática de algumas cidades no exterior, como Nova York, onde a prefeitura local está oferecendo passagens de graça no metrô, lanches e bilhetes em museus para os que tomam a vacina anti-Covid. “Não sei se ofertar benefícios seria uma boa decisão, porque às vezes você está contemplando uma pessoa que não estaria no grupo de risco. E teriam pessoas com maior risco para serem vacinadas primeiro, pondera Catarina. 

Além das questões éticas, existem as questões médicas e sanitárias, já que alguns tipos de vírus e bactérias, incluindo suas variantes, podem ser levadas de um país para outro através dos viajantes que porventura estejam infectados. Foi o que aconteceu com o próprio coronavírus. “Na verdade, o ideal é que as pessoas circulem o quanto menos possível. Porque se você tem uma grande circulação de pessoas, você tem uma grande circulação no vírus. O ideal é que as pessoas fiquem nos seus locais, esperem a organização da vacina do seu país e que cada país assuma a sua política de vacinação”, conclui a professora da Fits.

Asscom | Grupo Tiradentes

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