Derivado dos ingleses e com chegada ao Brasil no século XIX, o bolo de noiva tem seu local enraizado em Pernambuco, onde ele nunca falta em casamentos. Tem presença marcada também nos cardápios de vários restaurantes, padarias e confeitarias do Estado. Constituído com itens da receita original britânica, ele se adaptou na região com ingredientes: frutas locais, vinho moscatel e uso de mais açúcar, por conta dos engenhos pernambucanos. Do açúcar, originou a cobertura branca, conhecida como glacê mármore, que enriquece a decoração.
Ao longo do tempo, a tradição se mantém no paladar do pernambucano. “Aqui virou uma característica da nossa região. Tem até a tradição dos pais da noiva tirarem uma parte do bolo, raspam o açúcar e colocam no congelador para os noivos comerem um ano depois para dar sorte ao casal”, conta o professor de Administração da Unit-PE, Carlos Schuler, que descobriu nessa delícia uma iniciativa empreendedora.
Um doce negócio
O Bolo de noiva entrou também na vida de Carlos por acaso. “Fui encomendar o bolo e não tinham disponibilidade para fazer. Então, me passaram a receita e eu mesmo acabei fazendo no meu aniversário de quarenta anos”, contou. Depois disso, o bolo e as técnicas se tornaram um sucesso. O item acabou ocupando uma forma de hobby, e depois, uma forma de empreender. Vieram pedidos de familiares, amigos e conhecidos até chegar à criação do Tem pra Docê (@tempradoce). Um negócio caseiro que envolve a produção de vários tipos de doces.
Querendo inovar e abranger mais consumidores, ele aplicou algumas adaptações à receita tradicional. Em vez do leite usado na receita, ele usa o suco de laranja para os intolerantes à lactose. Também deixa o vinho embebido mais tempo com as frutas cristalizadas, garantindo uma massa mais uniforme e saborosa. Além de trocar o açúcar comum pelo mascavo para dar o sabor nordestino.
Pedidos para fora
Os famosos bolos pernambucanos de Carlos já foram transformados em diversos temas, marcaram presença em várias festas e foram até em outras regiões do país. “O pessoal pede decorado de time, infantil, casamento, de andares com outros sabores. Sempre algum parente leva pra fora também. Já mandei para Belém do Pará, Rio de Janeiro e Brasília. A construção do bolo tem que ser uma engenharia, com uma boa base para não desmoronar no transporte e a arte com personalização para cada cliente. É um trabalho que precisa ser feito com amor”, explicou.
É fato que o tradicional bolo de noiva é rico em cultura, regionalidade e sabor. Por mais que surjam novos doces nessa categoria, ele continuará simbolizando a história de Pernambuco. Esse bolo, com dois séculos de existência, é a prova de que a boa gastronomia cultural permanece inata na população.