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Violência doméstica também traumatiza as crianças

Professora da Unit alerta que situações de agressão entre casais afeta negativamente o desenvolvimento dos filhos, que podem ter problemas psicológicos na vida adulta

às 21h10
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O Brasil foi sacudido no último domingo por um escândalo de violência doméstica envolvendo o produtor musical DJ Ivis, filmado enquanto espancava sua ex-mulher, a influenciadora digital Pamella Holanda, em Fortaleza (CE). O caso já resultou em demissões e boicotes ao artista, que teve suas músicas excluídas da programação de emissoras de rádio e plataformas de música. E no fim da tarde desta quarta-feira, 14, ele foi preso pela polícia cearense, em cumprimento a uma ordem de prisão preventiva decretada pela Justiça.

As imagens chamaram a atenção para um detalhe ainda mais perturbador: um dos ataques de Ivis a Pamella aconteceu na presença da filha do casal, uma menina de apenas nove meses, que era amamentada pela vítima e por pouco não foi igualmente agredida. Esse detalhe chama a atenção para os traumas provocados em crianças e adolescentes que presenciam situações de violência doméstica e, muitas vezes, também acabam atingidas fisicamente, principalmente por pais, padrastos ou avôs. Os maiores danos são psicológicos e acabam se refletindo na vida adulta e na forma como a pessoa vai se relacionar com outras no futuro. 

“O impacto não é apenas na vida afetiva ou no modelo de relacionamento que essa criança vai estabelecer, seja ele amoroso ou de qualquer outro tipo dentro da perspectiva social. A presença da violência no meio intrafamiliar termina legitimando a violência como estratégia de resolução de conflitos. Como a criança absorve isso no cotidiano, ela entende que toda e qualquer forma de resolver o problema tem que ser pautado na violência”, alerta a professora Camille Cavalcanti Wanderley, do curso de Psicologia do Centro Universitário Tiradentes (Unit Alagoas), destacando que “esse tipo de violência doméstica entre os genitores é caracterizado como uma violência psicológica, que é de difícil detecção, porém, que causa maiores danos no desenvolvimento infantil”.

Alguns comportamentos demonstrados pelas crianças podem indicar que ela está sofrendo ou vivenciando uma situação de violência, como pesadelos repetitivos, ansiedade, raiva, culpa, vergonha e isolamento social. Além disso, de acordo com Camille, os ambientes de violência intrafamiliar podem contribuir para o desenvolvimento de psicopatologias. “Dificuldades sociais, transtornos de comportamento, cometimento de atos infracionais e relacionamentos íntimos violentos na vida adulta são algumas das consequências que esse ambiente pode proporcionar no futuro adulto. A violência tem um impacto que pode tanto cessar, impedir, deter ou retardar o desenvolvimento da criança”, ressalta ela.

Como evitar

Um caminho para prevenir estas consequências na educação das crianças é a adoção de uma forma não-agressiva e não-coercitiva de comunicação e de educação, evitando os castigos físicos e tons de voz mais elevados no trato com elas. Para a professora da Unit, isso só reforça a necessidade de abandonar a chamada “cultura da palmada”. “É preciso esclarecer à sociedade o malefício de ter um ambiente familiar pautado na violência, de ter a questão da violência doméstica como algo corriqueiro dentro do ambiente familiar, porque isso tem sequelas absurdas dentro do processo de desenvolvimento infanto-juvenil”, estimula Camille. 

As crianças já prejudicadas por situações de violência entre os pais precisam passar por um atento acompanhamento psicológico que busca reduzir os sintomas, em uma adaptação do protocolo aplicado no tratamento de vítimas de violência sexual. “Caso essa criança esteja apresentando depressão, ansiedade ou estresse pós-traumático, a gente reestrutura cognitivamente e emocionalmente as experiências traumáticas dessa criança, desenvolve a aprendizagem numa perspectiva de evitar a revitimização, fazendo com que essa criança comece a desenvolver repertórios para saber lidar diante de situações de violência que perpassam o cotidiano e também o desenvolvimento dela”, explica Camille, citando também o trabalho de terapia cognitiva comportamental, usado para reestruturar de laços dentro da família da vítima. “Podemos assim garantir um ambiente familiar respeitoso, de acolhimento afetuoso para essa criança, ressignificando toda essa vivência traumática que ela teve”, resumiu.

Situações de violência doméstica, familiar ou infantil podem ser denunciadas às autoridades, através dos telefones 100 e 180, (ambos do Ministério da Família e Direitos Humanos), do 190 (Polícia Militar) ou do Disque-Denúncia de seu estado: 181 (Sergipe e Alagoas) e (81) 3421-9595 (Grande Recife). Os números recebem ligações durante todos os dias da semana, inclusive feriados. A ligação é gratuita e o sigilo é garantido.

Asscom | Grupo Tiradentes

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