Nascido no Ceará, José Carlos Vasconcelos, que já tem duas graduações no currículo, buscou uma terceira formação, para melhorar a própria atuação profissional. Hoje, ele é estudante do 1° período do curso de Psicologia do Centro Universitário Tiradentes (Unit-PE) — localizado na Imbiribeira, ao lado do Geraldão. Formado em Ciências da Computação e em Direito, José mora em Pernambuco há 21 anos e atua como juiz na capital. Foi o diagnóstico de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e a sua vivência profissional que fizeram despertar o interesse pelos estudos da mente humana.
Ciências da Computação
O juiz concluiu a primeira graduação, em Ciências da Computação, pela Universidade Federal do Ceará, no ano de 1995, aos 22 anos. Naquela época, também chegou a cursar alguns semestres de Administração de Empresa, pela Universidade Estadual do Ceará, mas não concluiu o curso. “Claro que o trabalho fez com que eu focasse na graduação pretendida naquela época, que era, de fato, a Computação. Era um tempo de pouca tecnologia, se comparado a hoje, e dediquei-me à análise de sistemas, voltada ao mercado bancário, especializando-me em linguagem de programação COBOL”, conta.
Curso de Direito
Frustrado após se formar, José se viu no que ele chama de “crise do recém-formado”. “Sentia que a carreira escolhida não proporcionava o trabalho direto com as pessoas. Além disso, via que as carreiras médicas e do Direito pagavam bem melhor”, afirma. Seu irmão, que trabalhava como promotor de justiça, sugeriu o curso de Direito. Assim, José poderia até mesmo aproveitar algumas cadeiras do curso de Administração de Empresas, e se formar mais rápido. Tentou novamente o vestibular e passou em Direito na Universidade de Fortaleza. “Formei-me em três anos, em 1998, bacharel em Direito, e, logo em seguida, passei na OAB/PE, já iniciando a trabalhar como advogado militante em 1999”, relata.
Com a segunda graduação, José se inscreveu em dois concursos públicos: Juiz de Direito do Estado de Pernambuco e Advogado da Caixa Econômica Federal. Passou nos dois e ficou por dois anos como advogado da instituição financeira. Em 2003, assumiu o cargo de juiz em Pernambuco. “Lá se vão 21 anos morando em Pernambuco, terra que tomou meu coração. Aqui casei, tive meus filhos e andei pelo Estado todo. Comecei no Sertão, em Serrita, depois fui para Garanhuns e estou na Capital há mais de 9 anos”, narra.
Por que escolheu Psicologia
Durante toda sua vida, José sofreu com ansiedade patológica e, depois dos 40 anos, foi diagnosticado com TDAH e altas habilidades, além de ter familiares que também são neurodivergentes. Esse foi um dos motivos que o levou a se interessar pela Psicologia, além de vivências profissionais, já que trabalhou com crianças e adolescentes vítimas de pedofilia. “Os processos deveriam ser levados com muito cuidado para não revitimizar. Depois dessa experiência, passei a ter uma postura mais humana e acolhedora com as pessoas que recorrem ao Judiciário. Por isso, comecei a me interessar pela Psicologia, também para entender os tratamentos propostos para mim e para pessoas da minha família”, diz.
Carreira profissional
O estudante diz que escolheu a graduação de Psicologia justamente com esses dois objetivos: o autoconhecimento e para se tornar um melhor profissional na sua carreira como juiz. “Gosto da área jurídica justamente porque nela eu lido com pessoas. A humanidade às vezes me entristece, até porque trabalho na área penal, e outras vezes me deixa feliz. No fim, descobri que a vida é sobre tornar-se um ser humano melhor, através de reforma íntima”, confessa.
“Como neurodivergente, descobri que não escolhemos como nosso cérebro age. A ansiedade, por exemplo, me acompanhou a vida toda, mas nunca fugi da luta e da vida. E viver é se encontrar diariamente com a nossa própria humanidade, com nossos defeitos, com nossas virtudes. E viver a vida profissional em plenitude é justamente procurar fazer, de nosso trabalho, um instrumento de amparo ao outro”, reflete.