Com o término de um relacionamento, é comum escutar que a superação só vem com um novo envolvimento. Mas, apesar do senso comum, o costume de ter um relacionamento após o outro, sem um período para si mesmo, pode não ser positivo. Essas são as características da chamada “síndrome do Tarzan”, em alusão ao personagem que pula de um cipó para outro. Quem tem essa síndrome acaba levando para as novas relações as bagagens emocionais das experiências que não deram certo, o que impede o crescimento pessoal e cria um terreno fértil para relacionamentos tóxicos.
A Profª M.a. Déborah Capozzoli, docente do curso de Psicologia do Centro Universitário Tiradentes (Unit-PE) — localizado na Imbiribeira, ao lado do Geraldão — ressalta que a síndrome não é reconhecida como um transtorno mental. O termo foi cunhado nas redes sociais como uma forma de se referir ao comportamento de ter um relacionamento atrás do outro e não diz respeito a nenhuma condição descrita por manuais diagnósticos. “No entanto, ao se referir a uma ‘síndrome’, o termo indica a presença de um conjunto de sinais e sintomas de natureza psicológica e comportamental”, pontua.
Medo da solidão
Embora muitas vezes não tenha uma causa definida, como aponta Déborah, esse comportamento pode ter origem na insegurança e no medo de ficar solteiro. “É comum que a dificuldade em manter relacionamentos longos ou estáveis esteja relacionada a aspectos do modo de vida contemporâneo, marcado por uma liquidez nas relações e por uma crescente dificuldade na construção de vínculos sólidos, como já apontava Zygmunt Bauman”, acrescenta a psicóloga. Pessoas que, na infância, sofreram abandono ou rejeição emocional também podem ter dificuldades de se sentir amadas e, por isso, buscam constantemente por um relacionamento.
Como consequência, quem sofre com a síndrome do Tarzan acaba desenvolvendo problemas de autoestima. “Nesses casos, a dependência emocional surge com frequência, geralmente com uma sensação de vazio existencial, medo da solidão ou, até mesmo, a dificuldade de suportá-la, o que muitas vezes impede que o paciente vivencie de fato essa experiência”, Déborah explica. Ao romper uma relação, o indivíduo deve processar bem as emoções. Mas, quando se inicia um novo relacionamento logo após o anterior, isso não acontece, o que acaba refletindo nos novos envolvimentos, que se tornam frágeis e pouco saudáveis.
Um tempo para si
Por isso, Déborah defende que a crença de que é necessário um novo relacionamento para superar o anterior deve ser relativizada. “Quando há indícios de padrões psicológicos e comportamentais inadequados, torna-se fundamental compreender melhor tais dinâmicas, a fim de que o paciente possa, gradualmente, romper com os ciclos repetitivos e desenvolver formas mais saudáveis de lidar com suas emoções e vínculos afetivos”, detalha. Para isso, a psicóloga diz que é importante trabalhar o autoconhecimento e construir um caminho de crescimento pessoal e de autonomia emocional.