Toda região tem suas características de linguagem, cultura, sotaques e gírias. Cada lugar tem seu vocabulário, seu jeito de falar, a entonação. Isso torna o Brasil um país único. Em Pernambuco, as pessoas têm um dialeto próprio, com palavras e expressões que todos conhecem e que não sai de moda: são passadas de geração em geração, transmitidas na internet, relembradas em reportagens e o melhor: não sai da boca do pernambucano, transformando o chamado pernambuquês sempre em alta.
O dialeto se tornou tão conhecido que se expandiu para outras regiões, colocando-se como um exemplo de uma cultura rica e diversificada. Assim, recebeu seu nome próprio, como uma espécie de dicionário: o pernambuquês. Essa expressão nasceu para abranger o jeito de falar do pernambucano, com uma mistura de cultura e expressões pessoais.
Para o professor de Pós-Graduação da Unit-PE, Julio Pascoal, especialista em comportamento humano e trainer em programação neurolinguística, a língua própria é tão famosa por características da população e da própria região. “Isso se dá através do próprio pernambucano, de ser tão sociável. Ele está em todos os lugares. Em qualquer lugar do mundo vai ter um pernambucano, por ser alguém que acolhe outras pessoas e estados. Além disso, o estado é uma potência socioeconômica e de recursos, dando uma influência maior. Também tem a questão da própria cultura literária, por meio de Ariano Suassuna, que trouxe muito a questão do nordestino e do pernambucano em suas obras, popularizando a região”, explicou.
Adequação ao ambiente e público
Quando a questão é utilizar a linguagem em ambientes de estudo e trabalho, a atenção é necessária e Julio aconselha: “Nossa forma de falar não é pejorativa em um processo seletivo ou em algo formal. Mas, estar em um ambiente que não cabe gírias, é melhor evitar usar. Eu, por exemplo, faço muitas palestras para pessoas de outros estados, e eu sei que existem algumas palavras que só o pernambucano vai entender, podendo gerar um afastamento. Isso não acolhe o outro. A questão é perceber se o ambiente se adequa ao uso das gírias e expressões, sempre entender o melhor momento”, ressaltou.
Com a chegada de um mundo globalizado, a tendência é o mundo convergir cada vez mais para linguagens que conectem todos, gerando a aproximação e a união de várias culturas. Para Julio, isso é um ponto positivo para a conversação. “Espero muito que nós, cada vez mais, consigamos gerar uma comunicação mais próxima. É possível que novas expressões sejam criadas através dos meios de comunicação, podendo perder um pouco da regionalidade, mas eu fico feliz que estamos procurando uma forma de nos entendermos, para que se tenha a socialização e não a separação”, finalizou.
Dicionário
Com as palavras com seus significados únicos, Pernambuco tem seu próprio dicionário, que é difundido pelos pernambucanos, o dicionário pernambuquês, com palavras usadas no dia-a-dia na região. Confira algumas:
Arretado – pode significar algo bom ou alguém bravo
Arrodear – dar a volta
Boysinha – namorada
Buliçoso – aquele que gosta de mexer em tudo
Cambitos – pernas finas
De rosca – algo difícil de ser realizado, duro de sair
Emburacar – entrar sem licença
Fuleiro – de má qualidade (objeto), sem-vergonha (pessoas)
Gabiru – rato grande
Leso – bobo
Malassombro – assombração
Mangar – rir de alguém
Pantim – frescura, criar caso
Pareia – amigo, camarada
Queijudo – pessoa fresca
Se lascar todinho – se dar mal
Tabacudo – bobo
Toró – chuva forte
Zuada – barulho